Estresse na infância: o que é e quais são as suas causas

Muitas pessoas se perguntam se existem mesmo quadros de estresse na infância. 

Assim como é possível que crianças e jovens desenvolvam outras questões de saúde mental, também podem sofrer as consequências negativas do estresse em excesso.

Aliás, um estudo realizado pelo Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP) revelou que 36% das crianças e adolescentes brasileiros desenvolveram quadros de ansiedade e depressão durante a fase mais aguda da pandemia de Covid-19.

Isso significa que as crianças também sofrem com diversos fatores de estresse, tanto internos como externos, e precisam de cuidados nesse sentido. Ao longo deste artigo, você tem a oportunidade de aprender mais sobre o assunto. Vamos lá?

Estresse na infância existe mesmo?

Muitos aspectos afetam a qualidade de vida e o bem-estar de uma criança, por exemplo, o ambiente no qual está inserida, a rotina e o afeto recebido. 

Há quem não leve a sério o estresse na infância, afirmando que a “criança supera fácil”. No entanto, não podemos acreditar na ideia de que uma criança, diante de situações altamente estressantes, seja capaz de se recuperar com facilidade dos traumas gerados.

A verdade é que sem o apoio dos adultos, elas estão mais propensas a sofrer consequências graves no desenvolvimento provenientes de experiências negativas vivenciadas na infância.

Existem diferentes tipos de estresse que merecem ser explicados com mais detalhes:

  • Estresse positivo: referente aos desafios que as crianças enfrentam no dia a dia e podem gerar situações de estresse de menor intensidade. Nesse caso, é chamado de estresse positivo por causar breve aumento dos batimentos cardíacos e elevações suaves de níveis hormonais;
  • Estresse tolerável: relacionado a adversidades mais graves, como a perda de um parente ou amigo ou um desastre natural. A situação ativa o sistema de alerta do corpo em nível mais elevado, mas se for temporário o cérebro e o corpo como um todo são capazes de se recuperar dos efeitos negativos;
  • Estresse tóxico: são situações estressantes crônicas, como ambientes desfavoráveis, negligência ou abuso, que geram respostas biológicas capazes de impactar o desenvolvimento infantil e prejudicar a arquitetura do cérebro, inclusive gerando prejuízos negativos em diversos sistemas e órgãos.

Certa dose de estresse, portanto, que denominamos de estresse positivo, deve ser considerado como uma resposta normal às situações de insegurança, medo ou frustração. Além disso, é até mesmo benéfico para um desenvolvimento saudável. Alguns exemplos de situações são dificuldades com o dever de casa, o primeiro dia de aula na escola nova ou até mesmo presenciar um conflito entre os pais.

A exposição ao estresse tóxico, no entanto, merece uma atenção especial para que a criança receba o apoio necessário a fim de minimizar as consequências negativas que prejudicam o seu desenvolvimento cerebral.

Quais são as causas do estresse na infância?

Existem várias possíveis causas para o estresse infantil. O foco deve ser identificar os fatores estressantes em cada caso para tentar reverter o quadro e garantir equilíbrio e bem-estar.

As crianças cujo desenvolvimento sofre riscos são as que vivem em circunstâncias difíceis. Nesses casos, elas não têm apenas um dia ruim, mas convivem constantemente (por semanas, meses ou anos) em ambientes de pouca interação positiva e níveis de estresse muito altos.

Os principais fatores que caracterizam gatilhos de estresse são:

  • Separação dos pais;
  • Nascimento de um novo irmão;
  • Adoecimento;
  • Abandono parental;
  • Abusos físicos ou psicológicos;
  • Excesso de responsabilidades;
  • Brigas constantes;
  • Invalidação de sentimentos;
  • Cobranças excessivas;
  • Bullying praticado por colegas na escola ou parentes;
  • Mudanças repentinas de cidade, casa ou escola;
  • Perda de familiares;
  • Uso descontrolado de eletrônicos.

Quais são os sintomas mais comuns de estresse na infância?

Visto que as crianças nem sempre conseguem verbalizar sobre o fato de estarem estressadas, cabe aos pais ou responsáveis observar as reações e comportamentos que fogem do comum.

Entre os sintomas mais frequentes, podemos dividir em duas categorias, físicos e psicológicos. Confira exemplos de cada um deles:

Sintomas físicos

  • Dor de barriga;
  • Diarréia;
  • Tique nervoso;
  • Dor de cabeça;
  • Náusea;
  • Hiperatividade;
  • Enurese noturna (xixi na cama);
  • Gagueira;
  • Tensão muscular;
  • Ranger de dentes;
  • Falta de apetite;
  • Mãos frias e suadas.

Sintomas psicológicos

  • Terror noturno;
  • Introversão súbita;
  • Medo ou choro excessivo;
  • Agressividade;
  • Impaciência;
  • Pesadelos;
  • Ansiedade;
  • Dificuldades interpessoais;
  • Desobediência;
  • Insegurança;

Vale lembrar que nenhum sintoma isolado pode ser interpretado como sinal de estresse infantil. É importante verificar se vários sintomas estão ocorrendo juntos.

O estresse na infância, quando não é tratado e se prolonga demais, pode levar a uma série de doenças e problemas de adaptação, inclusive na escola. Além disso, a criança que não aprende a lidar com a tensão quase sempre se torna um adulto vulnerável ao estresse. 

Por isso, é sempre melhor aprender a lidar com essas questões quando se é ainda bem jovem, apesar de na idade adulta também ser possível adquirir técnicas de controle do estresse.

O que os pais ou responsáveis podem fazer para reduzir o estresse das crianças?

Não existe tratamento específico voltado para o estresse infantil. O indicado é que os pais ou responsáveis e, se necessário, com ajuda profissional, procurem identificar os fatores estressantes a fim de reduzir tais estímulos negativos.

Além disso, há outras recomendações importantes para garantir o bem-estar infantil, entre elas:

1. Incentivar a prática de esportes

Não é novidade que os exercícios físicos ajudam no combate ao estresse, tanto em adultos como em crianças. Isso porque a prática regular contribui para a liberação de endorfinas, o que ajuda a melhorar o ânimo, bem-estar, o humor e a motivação de forma geral.

2. Permitir o “ser criança”

A infância é uma fase muito gostosa, em que não deveriam existir preocupações com questões mais graves e sérias como na vida adulta.

Para ajudar a reduzir o estresse, é importante que a criança possa simplesmente ser criança, ou seja, brincar, se sujar e se arriscar. Ela deve se sentir livre para experimentar diferentes sensações e, assim, se desenvolver.

3. Ensinar a falar sobre as emoções

É importante que os pais ou responsáveis conversem abertamente sobre sentimentos e incentivem as crianças a se aprofundarem e respeitarem as próprias emoções.

Dessa forma, desde pequenos estarão desenvolvendo a inteligência emocional, que é tão importante para lidar com emoções negativas, como a raiva, a tristeza e, é claro, gatilhos estressores.

4. Acolher e dar afeto

As cobranças fazem parte da vida, mas é importante equilibrá-las com afeto e cuidado. Dar amor às crianças é importante para que elas tenham bem-estar emocional.

Além disso, o acolhimento parte da empatia e da escuta ativa, ou seja, é necessário que elas se sintam ouvidas e valorizadas pelos pais ou responsáveis. Assim, quando algo estiver incomodando e causando estresse, as chances de conseguirem pedir ajuda são maiores.

5. Estar presente no dia a dia

Só é possível ajudar uma criança se você, como mãe, pai ou responsável, estiver presente na sua rotina.

Os adultos têm um papel fundamental no desenvolvimento infantil, atuando como fonte de aprendizados e referências. Para ajudar a amenizar o estresse, é importante prestar atenção na criança e no que ela está querendo dizer com comportamentos que muitas vezes são inadequados, mas, na realidade, apenas sinalizam sintomas de algo muito maior.

6. Não sobrecarregar de tarefas

O excesso de responsabilidades e tarefas no dia a dia pode prejudicar significativamente o desenvolvimento saudável de uma criança.

É importante que, além de aulas e lições de casa, ela também tenha tempo livre para brincar e se divertir, e cabe aos pais criar uma agenda equilibrada levando isso em consideração.

7. Restringir o uso de eletrônicos

O uso excessivo de smartphones, tablets, computadores e videogames não é saudável para a saúde das crianças. É fundamental que elas tenham tempo para brincadeiras fora da tela também, porém, esse tem se tornado um desafio cada vez maior para os pais e responsáveis.

Além dos jogos, as redes sociais também podem ser gatilhos de ansiedade, depressão, bullying e estresse intenso.

Para se ter uma ideia, estudos apontam que crianças que ficam muito expostas às telas enfrentam mais problemas de aprendizagem e ficam com os níveis de cortisol mais altos (o hormônio do estresse), o que desregula o sono e o apetite.

Quando procurar ajuda profissional?

O estresse tóxico na infância é uma questão de saúde mental muito séria e que, se for negligenciada, é capaz de gerar grandes transtornos na vida de um indivíduo adulto.

Em alguns casos, é necessário buscar ajuda profissional de um psicólogo que seja especializado no assunto e possa oferecer orientações específicas de acordo com as circunstâncias da vida da criança.

Vale procurar ajuda se você notar que os pequenos estão sofrendo prejuízos no bem-estar e na qualidade de vida, seja na escola, nas relações ou no seu desenvolvimento como um todo.

Lembrando que o atendimento psicoterapêutico online de crianças e adolescentes só pode ser realizado com o consentimento expresso de pelo menos um dos responsáveis legais e mediante a avaliação da viabilidade técnica e da garantia de sigilo e qualidade do serviço prestado pelo psicólogo.

Para saber mais sobre o universo da psicologia e da saúde mental, que tal navegar pelo blog da Vittude, que é referência no assunto?

Autor

Bruna Cosenza

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Escritora, produtora de conteúdo freelancer e LinkedIn Top Voice 2019. Autora de "Sentimentos em comum" e "Lola & Benjamin", escreve para inspirar as pessoas a tornarem seus sonhos reais para que tenham uma vida mais significativa.