Transtornos mentais: tudo o que você precisa saber

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, quase um bilhão de pessoas viviam com transtornos mentais no mundo em 2019.

Diante de dados alarmantes como este, é fundamental disseminar informações de qualidade sobre saúde mental com o objetivo de eliminar os estigmas e contribuir para que cada vez mais pessoas busquem ajuda e tratamento.

Para se aprofundar no assunto, você pode começar pela leitura deste artigo. Vamos lá?

O que são transtornos mentais?

Os transtornos mentais são caracterizados por disfunções na atividade cerebral que afetam o comportamento, o cognitivo, o emocional e o humor de um indivíduo. 

De acordo com o nível de gravidade, um transtorno mental é capaz de gerar mais ou menos prejuízos na vida de uma pessoa. 

Qualquer um pode desenvolver problemas de saúde mental ao longo da vida, sendo que há diversas influências internas e externas, como:

  • Genética;
  • Capacidade de administrar emoções, interações e pensamentos;
  • Fatores sociais, culturais, econômicos, políticos e ambientais.

Por mais que haja fatores genéticos envolvidos, é importante pontuar que, quanto mais cedo as pessoas aprenderem a cuidar das suas emoções, manejar o estresse e cultivar hábitos saudáveis, maiores são as chances de viver com saúde mental e evitar o desenvolvimento de transtornos desse tipo.

Quais são as diferenças entre síndrome, transtorno e distúrbio?

Apesar de esses três termos serem formas de nomear sofrimentos psicológicos, é importante entender as particularidades de cada um no momento do diagnóstico. Vamos conferir as diferenças:

  • Síndromes: são o conjunto de sintomas e efeitos relacionados a mais de uma causa, não sendo fácil definir com exatidão o que desencadeia os sinais apresentados;
  • Distúrbios: são alterações nas condições físicas ou mentais do indivíduo, que impactam o funcionamento de algo em sua rotina (normalmente é fácil identificar a causa);
  • Transtornos: são perturbações de ordem mental que comprometem a vida de uma pessoa.

Quais são os principais transtornos mentais?

De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), há mais de 300 transtornos mentais catalogados. Ou seja: é impossível abordarmos todos neste artigo, mas trouxemos alguns dos principais e suas características:

Depressão

Segundo a OMS, por volta de 300 milhões de pessoas no mundo sofrem com este transtorno.

A depressão (CID 10 – F33) é uma doença psiquiátrica crônica, que causa alteração de humor caracterizada por tristeza profunda, amargura, desesperança, culpa e baixa autoestima.

Aqui, é muito importante saber diferenciar a tristeza transitória da patológica. É normal se sentir triste em alguns momentos da vida, quando acontece algo difícil e desagradável, por exemplo, a perda de emprego, o fim de um relacionamento ou a morte de um ente querido.

Pessoas sem depressão se sentem tristes, mas encontram formas de superar esse sentimento com o passar do tempo. No entanto, em quadros depressivos, o indivíduo convive com uma tristeza constante, mesmo que não haja causa aparente.

O humor deprimido ganha protagonismo e desaparece o interesse por tudo o que antes proporcionava satisfação e prazer. Trata-se, portanto, de uma doença incapacitante

Além do estado deprimido, outros sintomas são:

  • Ganho ou perda de peso;
  • Alterações de sono;
  • Problemas psicomotores, como agitação ou apatia psicomotora;
  • Fadiga constante;
  • Dificuldade de concentração;
  • Alteração de libido;
  • Ideias suicidas.

Transtorno de ansiedade generalizada

O Brasil é considerado o país mais ansioso do mundo de acordo com a Organização Mundial da Saúde.

De acordo com o manual de classificação de doenças mentais (DSM.IV), o transtorno de ansiedade generalizada (TAG) se trata de um distúrbio caracterizado por “preocupação excessiva ou expectativa apreensiva”, persistente e de difícil controle que dura seis meses ou mais.

Além disso, esse estado de preocupação deve estar acompanhado de três ou mais sintomas, como:

  • Irritabilidade;
  • Dificuldade de concentração;
  • Fadiga;
  • Inquietação;
  • Tensão muscular;
  • Perturbação do sono.

O nível de ansiedade é desproporcional à realidade, causando muito sofrimento e impactando negativamente a qualidade de vida do indivíduo.

Além dos citados acima, outros sintomas são comuns:

  • Palpitações;
  • Taquicardia;
  • Aumento da pressão arterial; Sudorese excessiva;
  • Dor de cabeça;
  • Falta de ar;
  • Aperto no peito;
  • Alterações intestinais;
  • Náuseas;
  • Dores musculares.

Transtornos alimentares

Bulimia e anorexia nervosa são transtornos alimentares comuns. 

A bulimia se caracteriza pelo ato de comer em grandes quantidades e, logo em seguida, eliminar as calorias consumidas, por exemplo, induzindo o vômito.

Já a anorexia se trata da perda de peso intencional causada pela recusa em se alimentar, medo de engordar e distorção da própria imagem.

É muito comum que adolescentes sofram com esse tipo de transtorno que está diretamente relacionado aos padrões de beleza irreais cultivados pela mídia e as redes sociais.

Transtorno obsessivo compulsivo 

O TOC é um transtorno psiquiátrico de ansiedade que tem como principal características as crises recorrentes de compulsões e obsessões.

São entendidos como obsessões, pensamentos, imagens e ideias que invadem a mente da pessoa com insistência, sem que ela queira. A maneira de se livrar dessas obsessões é realizar o ritual da própria compulsão, que segue regras e etapas rígidas pré-estabelecidas a fim de aliviar a ansiedade.

É comum a pessoa que sofre com TOC achar que se não agir dessa forma algo horrível irá lhe acontecer.

O problema é que tais pensamentos obsessivos podem ir se agravando a tal ponto em que atrapalham significativamente a rotina diária. É muito comum que os rituais estejam relacionados à limpeza, contagem, organização, simetria etc.

Existem dois tipos de TOC:

  • Transtorno obsessivo-compulsivo subclínico: em que as obsessões e rituais se repetem frequentemente, mas não atrapalham o dia a dia;
  • Transtorno obsessivo-compulsivo propriamente dito: ocorre quando as obsessões persistem até a realização do exercício da compulsão que alivia a ansiedade.

Transtorno afetivo bipolar

É um distúrbio psiquiátrico bem complexo, marcado pela alternância, muitas vezes súbita, de episódios de euforia (mania e hipomania) e de depressão, além de períodos assintomáticos entre eles.

As crises podem ser leves, moderadas ou graves, variando quanto à frequência e duração. 

Os sintomas de episódios depressivos:

  • Humor deprimido;
  • Tristeza profunda;
  • Apatia;
  • Culpa excessiva;
  • Redução da libido;
  • Isolamento social;
  • Ideações suicidas;
  • Dificuldade de concentração;
  • Frustração.

Os sintomas de episódios de mania:

  • Euforia exuberante;
  • Valorização da autoestima e autoconfiança;
  • Pouca necessidade de sono;
  • Agitação psicomotora;
  • Descontrole ao coordenar ideias;
  • Irritabilidade;
  • Aumento de libido;
  • Compulsão para falar;
  • Desvio de atenção;
  • Impaciência;
  • Mania de grandeza.

Os sintomas de episódios de hipomania:

São similares aos da mania, porém, são mais leves e com menor repercussão nas atividades e relacionamentos da pessoa. A crise costuma ser breve, com duração de apenas alguns dias.

Os tipos de transtornos bipolares

Segundo o DSM.IV e o CID-10 (manuais internacionais de classificação diagnóstica), este transtorno pode ser classificado em alguns tipos:

Tipo I

O indivíduo tem períodos de mania, que duram, pelo menos, sete dias, e períodos de humor deprimido que se prolongam de duas semanas a meses.

Os sintomas são intensos e causam mudanças de conduta e de comportamento, o que é capaz de comprometer os relacionamentos sociais e familiares, além do desempenho profissional, a posição econômica e a própria segurança.

A gravidade pode chegar a tal ponto que necessita internação hospitalar devido ao risco de  suicídio e demais complicações.

Tipo II

É quando há alternância entre episódios de hipomania (estado mais leve de euforia, otimismo e excitação) e depressão. 

Não há grandes prejuízos para o comportamento e as atividades cotidianas.

Não especificado ou misto

São casos em que os sintomas sugerem um diagnóstico de bipolaridade, mas não são o suficiente em questão de número e tempo de duração para que o transtorno seja classificado em algum dos tipos anteriores.

Ciclotímico

É o quadro mais leve, em que a pessoa convive com oscilações crônicas de humor que podem acontecer até no mesmo dia. Em muitos casos, essas mudanças são compreendidas como o próprio temperamento instável ou irresponsável do indivíduo.

Esquizofrenia

A esquizofrenia é uma doença psiquiátrica endógena, caracterizada pela perda do contato com a realidade.

O portador do transtorno muda a maneira como pensa, sente e se comporta. É comum que se feche em si mesmo, com o olhar perdido e indiferente ao que se passa ao seu redor. 

É muito comum ter alucinações e delírios, perdendo a noção entre o que é real e imaginário. O indivíduo tem a percepção de realidade alterada, vê e ouve coisas que não existem.

Os sintomas podem se manifestar de maneira diferente em cada um e, por isso, são separados por categorias chamadas de sintomas positivos, negativos, cognitivos, comportamentais e neurológicos.

Vamos conferir mais detalhes sobre cada um deles:

Sintomas positivos

Têm esse nome porque estão atrelados a comportamentos de aceleração ou agitação, além de se caracterizarem pela perda de contato com a realidade. São eles:

  • Alucinação: principalmente ouvir vozes que não existem;
  • Delírios: é muito comum ter certeza de que se é alvo de uma perseguição;
  • Pensamentos desordenados: dificuldade para organizações ações e pensamentos;
  • Distúrbios de movimento: movimentos agitados e desordenados que se repetem.

Sintomas negativos

Os sintomas negativos demoram mais para se manifestar ou serem percebidos. Estão relacionados a comportamentos apáticos ou à falta de emoções. São eles:

  • Falta de demonstração de afeto;
  • Perda de prazer no dia a dia;
  • Dificuldade para começar e manter atividades;
  • Dificuldade para se comunicar e manter a lógica na comunicação.

Sintomas cognitivos

São percebidos com facilidade na fase escolar porque estão atrelados ao desempenho e à capacidade intelectual. Os principais sintomas são:

  • Dificuldade de aprendizado;
  • Isolamento social;
  • Problemas de memória e concentração;
  • Abandono da escola.

Sintomas neurológicos

Esses sintomas têm reflexo físico e, por isso, são fáceis de serem notados:

  • Movimentos desajeitados, bruscos ou descoordenados;
  • Tiques faciais;
  • Piscar de olhos com frequência;
  • Desorientação espacial.

Sintomas comportamentais

  • Suicídio: presente na fase aguda e crônica;
  • Agressividade: ataques de fúria, reações impulsivas etc;
  • Atividades solitárias: risos ou falas solitárias sem razão, que acontecem de forma involuntária e automática;
  • Repetições: manias e hábitos repetitivos.

Transtorno de personalidade

Os transtornos de personalidade contemplam um grupo de doenças mentais em que os traços comportamentais e emocionais de um indivíduo são mal ajustados.

Um traço de personalidade nada mais é do que o aspecto de comportamento que uma pessoa carrega, por exemplo, a sua tendência à sociabilidade.

O diagnóstico acontece quando os traços de personalidade:

  • Apresentam um “desvio” significativo em relação aos demais e são inflexíveis;
  • Prejudicam a vivência de situações cotidianas e causam incômodo e sofrimento em diferentes áreas da vida.

Há vários tipos de transtornos de personalidade, sendo os principais:

  • Transtorno de Personalidade Paranoide;
  • Transtorno de Personalidade Esquizoide;
  • Transtorno de Personalidade Esquizotípica;
  • Transtorno de Personalidade Antissocial;
  • Transtorno de Personalidade Emocionalmente Instável (Borderline);
  • Transtorno de Personalidade Histriônica;
  • Transtorno de Personalidade Narcisista;
  • Transtorno de Personalidade Dependente;
  • Transtorno de Personalidade Obsessiva;
  • Transtorno de Personalidade Ansiosa.

Quais são as causas de transtornos mentais?

Não há apenas uma causa para o desenvolvimento de transtornos mentais, que costumam ser multifatoriais:

  • Genéticos: relacionado ao histórico familiar, ou seja, à carga genética;
  • Psicossociais: situações de estresse, ambiente escolar ou profissional, vida familiar;
  • Ambientais: problemas enfrentados na comunidade ou abusos;
  • Biológicos: situações anormais do sistema nervoso central.

Além de compreender as causas, é importante contar com um diagnóstico adequado para iniciar o tratamento e não sofrer tantos prejuízos em termos de qualidade de vida e bem-estar.

Como identificar transtornos mentais?

Nem sempre é fácil identificar transtornos mentais, que costumam ser caracterizados por uma combinação entre diversas emoções, pensamentos e comportamentos.

Cada transtorno tem os seus sintomas específicos, mas, no geral, é importante ficar atento ao seguinte:

  • Mudanças de humor repentinas;
  • Alterações no comportamento;
  • Problemas para expressar ideias; 
  • Dificuldade para se concentrar e raciocinar;
  • Dificuldades em conviver com outras pessoas.

Apenas profissionais da área da saúde, como psiquiatras e psicólogos, estão capacitados para analisar o quadro e realizar um diagnóstico. Por isso, diante dos sinais de que algo não vai bem, é recomendado procurar ajuda especializada.

Quais são os tratamentos para transtornos mentais?

Há diferentes possibilidades de tratamentos para quem convive com um transtorno mental e deseja prevenir o agravamento do quadro. 

Lembrando que o tratamento deve ser individualizado, de acordo com as necessidades e especificidades do diagnóstico de cada paciente.

No geral, os principais caminhos são:

Psicoterapia

A terapia e o tratamento psiquiátrico são processos diferentes, mas que, em muitos casos, se complementam. 

No caso de transtornos mentais, nem sempre é necessária a medicação (tudo depende do diagnóstico e da gravidade do caso), mas quase sempre é recomendado o acompanhamento psicológico.

A terapia é uma ferramenta de autocuidado muito poderosa, que proporciona inúmeros benefícios tanto para quem não tem como para quem tem um diagnóstico de transtorno mental. 

Os principais benefícios são:

Autoconhecimento e manejo das emoções

Ao se conhecer profundamente, você entende mais sobre as suas emoções e gatilhos, aprendendo a reconhecer os seus sentimentos, além de manejá-los e lidar de forma mais saudável com situações que geram estresse, angústias e medo. 

Além de todos os benefícios para si próprio, o autoconhecimento e a administração das suas emoções também gera impactos positivos em outras esferas da sua vida, como nos relacionamentos.

Motivação

Ao longo de um tratamento psiquiátrico, é normal ter altos e baixos. Em casos em que há a necessidade de medicação, nos primeiros dias o paciente pode sofrer com efeitos colaterais inconvenientes.

O acompanhamento psicológico, por sua vez, atua como uma dose de motivação não apenas, mas também nesses momentos. 

Ao realizar sessões semanalmente, você cria um compromisso com a sua saúde mental e o seu bem-estar, sabendo que naquele tempo programado para a terapia você terá acesso a um espaço de acolhimento.

Mudança de mentalidade

A partir do momento em que você se conhece melhor, entende o que te faz bem e mal, é possível começar a estruturar uma rotina de hábitos mais saudáveis a fim de mudar a sua mentalidade.

Por exemplo: ao ter clareza que você tem um padrão de comportamento pessimista diante das dificuldades e inseguranças da vida, você leva isso para a consciência e começa a trabalhar novas formas de cultivar um olhar mais realista e positivo.

Medicamentos

Conforme citado anteriormente, alguns casos podem exigir medicação prescrita por um médico psiquiatra, seja por um período breve ou, em certos quadros, durante toda a vida.

O diagnóstico correto do quadro do paciente é fundamental para que o tratamento psiquiátrico seja adequado e, assim, contribua para evitar o agravamento que, como vimos ao longo do artigo, pode levar ao suicídio.

Hábitos saudáveis

Por fim, é importante ressaltar a importância do cultivo de hábitos saudáveis para tratar qualquer tipo de transtorno mental.

Aqui, estamos nos referindo aos seguintes pontos:

  • Alimentação saudável;
  • Boa rotina de rotina de sono;
  • Prática regular de exercícios físicos;
  • Equilíbrio entre vida pessoal;
  • Relacionamentos saudáveis;
  • Cultivo de hobbies.

Tudo isso impacta (e muito) o dia a dia de um indivíduo, contribuindo para tornar o tratamento como um todo muito mais eficaz.

Todo tratamento começa com um diagnóstico correto

Ter o suporte de uma equipe de excelentes profissionais para cuidar de um caso de transtorno mental é fundamental para obter resultados positivos.

No mínimo, é necessário contar com um psicólogo e um psiquiatra para avaliação e acompanhamento do caso. Sem um diagnóstico adequado, fica impossível conduzir o tratamento de maneira eficaz.

Sabemos que não é simples encontrar um bom psicólogo, mas a boa notícia é que, hoje em dia, já existem plataformas que facilitam o processo e te conectam a um profissional de qualidade.

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Autor

Bruna Cosenza

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Escritora, produtora de conteúdo freelancer e LinkedIn Top Voice 2019. Autora de "Sentimentos em comum" e "Lola & Benjamin", escreve para inspirar as pessoas a tornarem seus sonhos reais para que tenham uma vida mais significativa.