Transtornos mentais: tudo o que você precisa saber
25 de outubro de 2023
Tempo de leitura: 14 minutosDe acordo com a Organização Mundial da Saúde, quase um bilhão de pessoas viviam com transtornos mentais no mundo em 2019.
Diante de dados alarmantes como este, é fundamental disseminar informações de qualidade sobre saúde mental com o objetivo de eliminar os estigmas e contribuir para que cada vez mais pessoas busquem ajuda e tratamento.
Para se aprofundar no assunto, você pode começar pela leitura deste artigo. Vamos lá?
O que são transtornos mentais?
Os transtornos mentais são caracterizados por disfunções na atividade cerebral que afetam o comportamento, o cognitivo, o emocional e o humor de um indivíduo.
De acordo com o nível de gravidade, um transtorno mental é capaz de gerar mais ou menos prejuízos na vida de uma pessoa.
Qualquer um pode desenvolver problemas de saúde mental ao longo da vida, sendo que há diversas influências internas e externas, como:
- Genética;
- Capacidade de administrar emoções, interações e pensamentos;
- Fatores sociais, culturais, econômicos, políticos e ambientais.
Por mais que haja fatores genéticos envolvidos, é importante pontuar que, quanto mais cedo as pessoas aprenderem a cuidar das suas emoções, manejar o estresse e cultivar hábitos saudáveis, maiores são as chances de viver com saúde mental e evitar o desenvolvimento de transtornos desse tipo.
Quais são as diferenças entre síndrome, transtorno e distúrbio?
Apesar de esses três termos serem formas de nomear sofrimentos psicológicos, é importante entender as particularidades de cada um no momento do diagnóstico. Vamos conferir as diferenças:
- Síndromes: são o conjunto de sintomas e efeitos relacionados a mais de uma causa, não sendo fácil definir com exatidão o que desencadeia os sinais apresentados;
- Distúrbios: são alterações nas condições físicas ou mentais do indivíduo, que impactam o funcionamento de algo em sua rotina (normalmente é fácil identificar a causa);
- Transtornos: são perturbações de ordem mental que comprometem a vida de uma pessoa.
Quais são os principais transtornos mentais?
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), há mais de 300 transtornos mentais catalogados. Ou seja: é impossível abordarmos todos neste artigo, mas trouxemos alguns dos principais e suas características:
Depressão
Segundo a OMS, por volta de 300 milhões de pessoas no mundo sofrem com este transtorno.
A depressão (CID 10 – F33) é uma doença psiquiátrica crônica, que causa alteração de humor caracterizada por tristeza profunda, amargura, desesperança, culpa e baixa autoestima.
Aqui, é muito importante saber diferenciar a tristeza transitória da patológica. É normal se sentir triste em alguns momentos da vida, quando acontece algo difícil e desagradável, por exemplo, a perda de emprego, o fim de um relacionamento ou a morte de um ente querido.
Pessoas sem depressão se sentem tristes, mas encontram formas de superar esse sentimento com o passar do tempo. No entanto, em quadros depressivos, o indivíduo convive com uma tristeza constante, mesmo que não haja causa aparente.
O humor deprimido ganha protagonismo e desaparece o interesse por tudo o que antes proporcionava satisfação e prazer. Trata-se, portanto, de uma doença incapacitante
Além do estado deprimido, outros sintomas são:
- Ganho ou perda de peso;
- Alterações de sono;
- Problemas psicomotores, como agitação ou apatia psicomotora;
- Fadiga constante;
- Dificuldade de concentração;
- Alteração de libido;
- Ideias suicidas.
Transtorno de ansiedade generalizada
O Brasil é considerado o país mais ansioso do mundo de acordo com a Organização Mundial da Saúde.
De acordo com o manual de classificação de doenças mentais (DSM.IV), o transtorno de ansiedade generalizada (TAG) se trata de um distúrbio caracterizado por “preocupação excessiva ou expectativa apreensiva”, persistente e de difícil controle que dura seis meses ou mais.
Além disso, esse estado de preocupação deve estar acompanhado de três ou mais sintomas, como:
- Irritabilidade;
- Dificuldade de concentração;
- Fadiga;
- Inquietação;
- Tensão muscular;
- Perturbação do sono.
O nível de ansiedade é desproporcional à realidade, causando muito sofrimento e impactando negativamente a qualidade de vida do indivíduo.
Além dos citados acima, outros sintomas são comuns:
- Palpitações;
- Taquicardia;
- Aumento da pressão arterial; Sudorese excessiva;
- Dor de cabeça;
- Falta de ar;
- Aperto no peito;
- Alterações intestinais;
- Náuseas;
- Dores musculares.
Transtornos alimentares
Bulimia e anorexia nervosa são transtornos alimentares comuns.
A bulimia se caracteriza pelo ato de comer em grandes quantidades e, logo em seguida, eliminar as calorias consumidas, por exemplo, induzindo o vômito.
Já a anorexia se trata da perda de peso intencional causada pela recusa em se alimentar, medo de engordar e distorção da própria imagem.
É muito comum que adolescentes sofram com esse tipo de transtorno que está diretamente relacionado aos padrões de beleza irreais cultivados pela mídia e as redes sociais.
Transtorno obsessivo compulsivo
O TOC é um transtorno psiquiátrico de ansiedade que tem como principal características as crises recorrentes de compulsões e obsessões.
São entendidos como obsessões, pensamentos, imagens e ideias que invadem a mente da pessoa com insistência, sem que ela queira. A maneira de se livrar dessas obsessões é realizar o ritual da própria compulsão, que segue regras e etapas rígidas pré-estabelecidas a fim de aliviar a ansiedade.
É comum a pessoa que sofre com TOC achar que se não agir dessa forma algo horrível irá lhe acontecer.
O problema é que tais pensamentos obsessivos podem ir se agravando a tal ponto em que atrapalham significativamente a rotina diária. É muito comum que os rituais estejam relacionados à limpeza, contagem, organização, simetria etc.
Existem dois tipos de TOC:
- Transtorno obsessivo-compulsivo subclínico: em que as obsessões e rituais se repetem frequentemente, mas não atrapalham o dia a dia;
- Transtorno obsessivo-compulsivo propriamente dito: ocorre quando as obsessões persistem até a realização do exercício da compulsão que alivia a ansiedade.
Transtorno afetivo bipolar
É um distúrbio psiquiátrico bem complexo, marcado pela alternância, muitas vezes súbita, de episódios de euforia (mania e hipomania) e de depressão, além de períodos assintomáticos entre eles.
As crises podem ser leves, moderadas ou graves, variando quanto à frequência e duração.
Os sintomas de episódios depressivos:
- Humor deprimido;
- Tristeza profunda;
- Apatia;
- Culpa excessiva;
- Redução da libido;
- Isolamento social;
- Ideações suicidas;
- Dificuldade de concentração;
- Frustração.
Os sintomas de episódios de mania:
- Euforia exuberante;
- Valorização da autoestima e autoconfiança;
- Pouca necessidade de sono;
- Agitação psicomotora;
- Descontrole ao coordenar ideias;
- Irritabilidade;
- Aumento de libido;
- Compulsão para falar;
- Desvio de atenção;
- Impaciência;
- Mania de grandeza.
Os sintomas de episódios de hipomania:
São similares aos da mania, porém, são mais leves e com menor repercussão nas atividades e relacionamentos da pessoa. A crise costuma ser breve, com duração de apenas alguns dias.
Os tipos de transtornos bipolares
Segundo o DSM.IV e o CID-10 (manuais internacionais de classificação diagnóstica), este transtorno pode ser classificado em alguns tipos:
Tipo I
O indivíduo tem períodos de mania, que duram, pelo menos, sete dias, e períodos de humor deprimido que se prolongam de duas semanas a meses.
Os sintomas são intensos e causam mudanças de conduta e de comportamento, o que é capaz de comprometer os relacionamentos sociais e familiares, além do desempenho profissional, a posição econômica e a própria segurança.
A gravidade pode chegar a tal ponto que necessita internação hospitalar devido ao risco de suicídio e demais complicações.
Tipo II
É quando há alternância entre episódios de hipomania (estado mais leve de euforia, otimismo e excitação) e depressão.
Não há grandes prejuízos para o comportamento e as atividades cotidianas.
Não especificado ou misto
São casos em que os sintomas sugerem um diagnóstico de bipolaridade, mas não são o suficiente em questão de número e tempo de duração para que o transtorno seja classificado em algum dos tipos anteriores.
Ciclotímico
É o quadro mais leve, em que a pessoa convive com oscilações crônicas de humor que podem acontecer até no mesmo dia. Em muitos casos, essas mudanças são compreendidas como o próprio temperamento instável ou irresponsável do indivíduo.
Esquizofrenia
A esquizofrenia é uma doença psiquiátrica endógena, caracterizada pela perda do contato com a realidade.
O portador do transtorno muda a maneira como pensa, sente e se comporta. É comum que se feche em si mesmo, com o olhar perdido e indiferente ao que se passa ao seu redor.
É muito comum ter alucinações e delírios, perdendo a noção entre o que é real e imaginário. O indivíduo tem a percepção de realidade alterada, vê e ouve coisas que não existem.
Os sintomas podem se manifestar de maneira diferente em cada um e, por isso, são separados por categorias chamadas de sintomas positivos, negativos, cognitivos, comportamentais e neurológicos.
Vamos conferir mais detalhes sobre cada um deles:
Sintomas positivos
Têm esse nome porque estão atrelados a comportamentos de aceleração ou agitação, além de se caracterizarem pela perda de contato com a realidade. São eles:
- Alucinação: principalmente ouvir vozes que não existem;
- Delírios: é muito comum ter certeza de que se é alvo de uma perseguição;
- Pensamentos desordenados: dificuldade para organizações ações e pensamentos;
- Distúrbios de movimento: movimentos agitados e desordenados que se repetem.
Sintomas negativos
Os sintomas negativos demoram mais para se manifestar ou serem percebidos. Estão relacionados a comportamentos apáticos ou à falta de emoções. São eles:
- Falta de demonstração de afeto;
- Perda de prazer no dia a dia;
- Dificuldade para começar e manter atividades;
- Dificuldade para se comunicar e manter a lógica na comunicação.
Sintomas cognitivos
São percebidos com facilidade na fase escolar porque estão atrelados ao desempenho e à capacidade intelectual. Os principais sintomas são:
- Dificuldade de aprendizado;
- Isolamento social;
- Problemas de memória e concentração;
- Abandono da escola.
Sintomas neurológicos
Esses sintomas têm reflexo físico e, por isso, são fáceis de serem notados:
- Movimentos desajeitados, bruscos ou descoordenados;
- Tiques faciais;
- Piscar de olhos com frequência;
- Desorientação espacial.
Sintomas comportamentais
- Suicídio: presente na fase aguda e crônica;
- Agressividade: ataques de fúria, reações impulsivas etc;
- Atividades solitárias: risos ou falas solitárias sem razão, que acontecem de forma involuntária e automática;
- Repetições: manias e hábitos repetitivos.
Transtorno de personalidade
Os transtornos de personalidade contemplam um grupo de doenças mentais em que os traços comportamentais e emocionais de um indivíduo são mal ajustados.
Um traço de personalidade nada mais é do que o aspecto de comportamento que uma pessoa carrega, por exemplo, a sua tendência à sociabilidade.
O diagnóstico acontece quando os traços de personalidade:
- Apresentam um “desvio” significativo em relação aos demais e são inflexíveis;
- Prejudicam a vivência de situações cotidianas e causam incômodo e sofrimento em diferentes áreas da vida.
Há vários tipos de transtornos de personalidade, sendo os principais:
- Transtorno de Personalidade Paranoide;
- Transtorno de Personalidade Esquizoide;
- Transtorno de Personalidade Esquizotípica;
- Transtorno de Personalidade Antissocial;
- Transtorno de Personalidade Emocionalmente Instável (Borderline);
- Transtorno de Personalidade Histriônica;
- Transtorno de Personalidade Narcisista;
- Transtorno de Personalidade Dependente;
- Transtorno de Personalidade Obsessiva;
- Transtorno de Personalidade Ansiosa.
Quais são as causas de transtornos mentais?
Não há apenas uma causa para o desenvolvimento de transtornos mentais, que costumam ser multifatoriais:
- Genéticos: relacionado ao histórico familiar, ou seja, à carga genética;
- Psicossociais: situações de estresse, ambiente escolar ou profissional, vida familiar;
- Ambientais: problemas enfrentados na comunidade ou abusos;
- Biológicos: situações anormais do sistema nervoso central.
Além de compreender as causas, é importante contar com um diagnóstico adequado para iniciar o tratamento e não sofrer tantos prejuízos em termos de qualidade de vida e bem-estar.
Como identificar transtornos mentais?
Nem sempre é fácil identificar transtornos mentais, que costumam ser caracterizados por uma combinação entre diversas emoções, pensamentos e comportamentos.
Cada transtorno tem os seus sintomas específicos, mas, no geral, é importante ficar atento ao seguinte:
- Mudanças de humor repentinas;
- Alterações no comportamento;
- Problemas para expressar ideias;
- Dificuldade para se concentrar e raciocinar;
- Dificuldades em conviver com outras pessoas.
Apenas profissionais da área da saúde, como psiquiatras e psicólogos, estão capacitados para analisar o quadro e realizar um diagnóstico. Por isso, diante dos sinais de que algo não vai bem, é recomendado procurar ajuda especializada.
Quais são os tratamentos para transtornos mentais?
Há diferentes possibilidades de tratamentos para quem convive com um transtorno mental e deseja prevenir o agravamento do quadro.
Lembrando que o tratamento deve ser individualizado, de acordo com as necessidades e especificidades do diagnóstico de cada paciente.
No geral, os principais caminhos são:
Psicoterapia
A terapia e o tratamento psiquiátrico são processos diferentes, mas que, em muitos casos, se complementam.
No caso de transtornos mentais, nem sempre é necessária a medicação (tudo depende do diagnóstico e da gravidade do caso), mas quase sempre é recomendado o acompanhamento psicológico.
A terapia é uma ferramenta de autocuidado muito poderosa, que proporciona inúmeros benefícios tanto para quem não tem como para quem tem um diagnóstico de transtorno mental.
Os principais benefícios são:
Autoconhecimento e manejo das emoções
Ao se conhecer profundamente, você entende mais sobre as suas emoções e gatilhos, aprendendo a reconhecer os seus sentimentos, além de manejá-los e lidar de forma mais saudável com situações que geram estresse, angústias e medo.
Além de todos os benefícios para si próprio, o autoconhecimento e a administração das suas emoções também gera impactos positivos em outras esferas da sua vida, como nos relacionamentos.
Motivação
Ao longo de um tratamento psiquiátrico, é normal ter altos e baixos. Em casos em que há a necessidade de medicação, nos primeiros dias o paciente pode sofrer com efeitos colaterais inconvenientes.
O acompanhamento psicológico, por sua vez, atua como uma dose de motivação não apenas, mas também nesses momentos.
Ao realizar sessões semanalmente, você cria um compromisso com a sua saúde mental e o seu bem-estar, sabendo que naquele tempo programado para a terapia você terá acesso a um espaço de acolhimento.
Mudança de mentalidade
A partir do momento em que você se conhece melhor, entende o que te faz bem e mal, é possível começar a estruturar uma rotina de hábitos mais saudáveis a fim de mudar a sua mentalidade.
Por exemplo: ao ter clareza que você tem um padrão de comportamento pessimista diante das dificuldades e inseguranças da vida, você leva isso para a consciência e começa a trabalhar novas formas de cultivar um olhar mais realista e positivo.
Medicamentos
Conforme citado anteriormente, alguns casos podem exigir medicação prescrita por um médico psiquiatra, seja por um período breve ou, em certos quadros, durante toda a vida.
O diagnóstico correto do quadro do paciente é fundamental para que o tratamento psiquiátrico seja adequado e, assim, contribua para evitar o agravamento que, como vimos ao longo do artigo, pode levar ao suicídio.
Hábitos saudáveis
Por fim, é importante ressaltar a importância do cultivo de hábitos saudáveis para tratar qualquer tipo de transtorno mental.
Aqui, estamos nos referindo aos seguintes pontos:
- Alimentação saudável;
- Boa rotina de rotina de sono;
- Prática regular de exercícios físicos;
- Equilíbrio entre vida pessoal;
- Relacionamentos saudáveis;
- Cultivo de hobbies.
Tudo isso impacta (e muito) o dia a dia de um indivíduo, contribuindo para tornar o tratamento como um todo muito mais eficaz.
Todo tratamento começa com um diagnóstico correto
Ter o suporte de uma equipe de excelentes profissionais para cuidar de um caso de transtorno mental é fundamental para obter resultados positivos.
No mínimo, é necessário contar com um psicólogo e um psiquiatra para avaliação e acompanhamento do caso. Sem um diagnóstico adequado, fica impossível conduzir o tratamento de maneira eficaz.
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