Como o assédio moral no trabalho afeta a saúde mental dos colaboradores?

O cuidado com o bem-estar dos funcionários e sua percepção positiva da segurança psicológica é uma obrigação dos gestores, diretores e do RH; mas, infelizmente, sabemos que para boa parte da população brasileira a realidade é outra. Ano após ano, o assédio moral no trabalho impacta a saúde mental dos colaboradores e tanto eles quanto a empresa sofrem com isso. 

Aliás, é muito provável que você já tenha visto uma situação desse tipo ou tenha até sido vítima de um líder abusivo. Em ambos os casos, ouvir especialistas para definir como tratar o assunto é fundamental.

Neste artigo, exploraremos em detalhes os impactos do assédio moral na saúde mental dos colaboradores através de depoimentos de psicólogos especializados no tema, além de examinar as consequências negativas para as vítimas e discutir estratégias que podem ser adotadas para lidar com o problema.

Assédio moral no trabalho e saúde mental do colaborador 

O assédio moral é uma forma de violência psicológica e que, como tal, atinge a saúde mental do colaborador de diferentes maneiras: pela humilhação, pelo excesso de críticas, pela diferença de tratamento, pelo constrangimento, pela perseguição, pela desvalorização e por outras atitudes agressivas. 

Inicialmente, é possível que a pessoa abusada não se veja como vítima. Assim como em outros tipos de relacionamentos abusivos, o assediador pode tentar encantar a vítima para, pouco a pouco, conseguir instaurar uma relação de assédio moral no trabalho. 

Para a psicóloga francesa Marie-France Hirigoyen, autora de “Assédio moral: a violência perversa no cotidiano”, esta forma de agressão traz consigo dois elementos: a manipulação e o abuso de poder. Essa combinação afeta a autoestima profissional e pessoal do funcionário, podendo fazer tão mal que se torna insuportável para ele ficar no emprego. 

Essa “demissão forçada” é o que acontece quando a vítima já fez todo o possível para tentar resolver a situação ou até conviver com ela, mas não conseguiu. Quando ela acontece, provavelmente está acompanhada de um adoecimento psíquico ou até mesmo físico. 

Em todas as situações de assédio moral no ambiente profissional, estão presentes as seguintes características:

  • Violência psicológica intensa;
  • Repetição frequente;
  • Atmosfera de hostilidade e humilhação;
  • Desequilíbrio de poder.

Ele tem consequências negativas para a saúde mental de quem passa por situações desse tipo. Estas podem não aparecer num primeiro momento ou até mesmo quando a vítima já se reconhece como tal, mas engana-se quem acha que possui recursos ilimitados para lidar com relações tóxicas sem deteriorar sua saúde

Algumas das características visíveis são a perda de motivação para trabalhar, a queda da produtividade, o aumento de conflitos inter-relacionais, o presenteísmo, etc. Num estágio mais avançado, o absenteísmo e o turnover. Pelo menos, é o que aparece do lado de fora. 

Mas o que não vemos pode ser muito mais complicado. Conheça, no tópico abaixo, algumas das consequências do assédio para a saúde mental de colaboradores. 

Quais as principais consequências psicológicas para um colaborador que sofre assédio moral no trabalho?

Antes de falarmos sobre as consequências do assédio moral para a saúde mental é importante considerar que cada pessoa é diferente da outra. Portanto, diante de um mesmo cenário, elas podem ter reações e sintomas diferentes.

Na maioria das vezes, é difícil precisar o motivo do aparecimento de uma doença ou transtorno, pois somos seres biopsicossociais e qualquer uma dessas áreas — a genética, nosso background familiar e experiências de vida — se refletem no que somos hoje. 

Isso inclui também, é claro, a forma como nossa mente interpreta o que acontece conosco e à nossa volta. Mas alguns dos sintomas mais comuns diante de situações de assédio são essas:

Aumento do estresse

O estresse é uma reação natural do corpo diante de situações novas. Isso significa que ele não é necessariamente negativo. Mudar de casa, começar um emprego novo e fazer uma viagem podem ser estressantes do ponto de vista fisiológico. 

Mas, diante de uma situação de violência, não estamos falando de um estresse positivo. Mas sim de algo que tem graves consequências para a nossa saúde, podendo ser a porta para que várias doenças se aproximem e afetem tanto nossa mente quanto nosso corpo. 

Quando dizemos que estamos estressados queremos dizer que estamos tensos, nervosos ou ansiosos. Isso está correto. Tanto que cargas altas ou prolongadas de estresse  liberam adrenalina e cortisol, hormônios que nos deixam no estado de “luta ou fuga” e podem gerar dificuldade de concentração, tensões musculares, insônia e irritabilidade. 

Além disso, também aumenta a pressão arterial, dificulta a respiração, desregula o sistema endócrino e muitas outras partes do corpo necessárias para o seu bom funcionamento. 

Depressão

A depressão é conhecida como o “mal do século” e essa expressão nos dá sinais de como ela pode ser incapacitante, travando a vida de qualquer indivíduo e comprometendo sua saúde e até sua sobrevivência, caso o incapacite de trabalhar. 

Apesar de poucos dados sobre essa relação, segundo a OMS 75 mil trabalhadores pediram afastamento no trabalho em 2016 devido a quadros depressivos causados por assédio moral no trabalho. Em 2022, a organização fez um comunicado oficial pedindo que as empresas tomem iniciativa para cuidar da saúde mental dos seus colaboradores. 

Quadros que afetam negativamente a saúde mental frequentemente levam as pessoas à depressão. De acordo com dados do Ministério da Saúde, o Brasil é o país com mais casos de depressão na América Latina e, segundo a OMS, o 5º no ranking mundial. 

Ansiedade e Síndrome do Pânico

A ansiedade é um dos principais sintomas em quem sofre assédio moral no trabalho. Quem é humilhado ou perseguido sente medo de encontrar quem o assediou e o quadro piora se o contato no trabalho for próximo. 

Alguns sintomas da ansiedade são dor no peito, respiração acelerada e, em casos mais graves, uma sensação de angústia gritante. Quando esse quadro evolui para a Síndrome do Pânico, a pessoa pode ter crises tão fortes em que ela acredita que alguma coisa horrível vai acontecer, como a sua morte ou a de alguém próximo.

Nós estamos no país mais ansioso do mundo. Esse é um dado tão grave que deve ser falado e repetido sempre que necessário. É fundamental que a empresa e, especialmente o RH, saiba ajudar pessoas ansiosas — sejam elas vítimas de assédio ou não. 

Baixa autoestima

Outro sintoma bastante preocupante que acomete as pessoas assediadas é que a sua autoestima fica destruída. Sofrer constrangimentos, cerceamentos e críticas constantes sem dúvida afeta a autopercepção de qualquer pessoa. 

E a questão é que a vítima não deixa de se sentir inferior e desvalorizada quando sai do escritório ou desliga o computador. Aquilo a acompanha em todos os momentos, afeta negativamente suas relações e, claro, também diminui significativamente sua produtividade e engajamento no trabalho. 

Neste caso e, em todos os anteriores, o acompanhamento psicoterapêutico é uma das medidas mais importantes a serem tomadas. 

Alterações na memória e atenção

Com tantas batalhas internas sendo travadas, é claro que o cérebro perde o seu foco. Por isso, a concentração no trabalho cai e a memória também é prejudicada. 

Um artigo da Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva mostra, através de uma pesquisa científica, que a depressão causa déficits neurológicos que estão relacionados tanto com questões biológicas quanto psicológicas. O mesmo já foi comprovado em casos de estresse e ansiedade aumentados. 

Em termos práticos, isso pode significar atraso nas entregas ou entregas incompletas, faltas a reuniões, atrasos constantes, além de diversos outros comprometimentos no trabalho. 

Doenças crônicas

Também é bastante comum que as consequências geradas na saúde mental pelo assédio sejam gatilhos para o aparecimento de doenças crônicas. Entre elas estão:

  • Gastrite nervosa
  • Problemas cardiovasculares
  • Dores crônicas e reumatismo
  • Síndrome do Intestino Irritável
  • TDAH e outros transtornos neurológicos
  • Inflamações e doenças dermatológicas

Neste caso, além do acompanhamento com psicoterapia é muito importante que a pessoa consulte um médico especialista para diagnóstico e tratamento adequado. 

Ainda vale a pena ressaltar a importância da prevenção de todas as doenças mentais e físicas, já que, uma vez que elas estão instaladas, pode ser bastante difícil reverter o quadro. 

A influência do assédio moral na Síndrome de Burnout

A Síndrome de Burnout já é considerada uma doença ocupacional pela OMS (CID10 Z56). Ela é o resultado de um processo de adoecimento relacionado ao ritmo e ambiente de trabalho. Veja que não é uma questão apenas de um ritmo de trabalho acelerado, mas envolve os motivos pelos quais ele foi estabelecido. 

Assim, é importante dizer que o Burnout não é apenas uma questão individual, mas também é institucional e social. 

Para Ana Maria Rossi, psicóloga e presidenta do Instituto Internacional de Gestão do Estresse no Brasil (Isma-BR), a pessoa que não desenvolve Burnout tem:

  • A autoestima muito elevada;
  • Uma relação saudável com o trabalho;
  • Criatividade diante dos cenários mais adversos.

Isso significa que é vital manter o equilíbrio entre vida pessoal e profissional e também que estar num ambiente de trabalho tóxico não é necessariamente condição prioritária para o desenvolvimento da doença. 

Porém, ela também deixa claro numa entrevista para o podcast Trabalho Mental, do jornal Estadão, que a Burnout é uma faca de dois gumes: responsabilidade tanto da empresa quanto da pessoa que desenvolve a síndrome e que o ambiente tóxico — onde necessariamente existe o assédio moral — é sim um indutor de doenças. 

Por outro lado, considera que é muito mais produtivo adaptar o trabalho ao indivíduo do que o indivíduo ao trabalho. Ou seja, o esforço da empresa pode ter resultados muito mais significativos do que os esforços individuais dos colaboradores

O que a empresa pode fazer para diminuir um quadro organizacional negativo? 

Uma situação de assédio pode ter repercussões na vítima, mas também em outros colaboradores. Além de impactar negativamente sua saúde mental, pode incentivá-los a reproduzir o assédio moral no trabalho de diferentes formas e com diferentes pessoas. 

Isso vai fazendo com que o assédio se torne parte da cultura organizacional, o que é extremamente prejudicial. Nesse ponto, existem (pelo menos) dois problemas: a saúde mental dos colaboradores e a reputação interna da empresa. 

Num cenário como esse, a pior coisa a fazer é não fazer nada. É fundamental que os gestores e o RH criem estratégias para conter todas as consequências negativas que podem ser geradas.

Listamos algumas delas que podem te ajudar a recuperar um bom clima organizacional. Veja!

Tornar a cultura organizacional mais inclusiva

A primeira coisa que qualquer empresa ética faz quando são relatados casos de assédio não é punir o assediador, muito menos desconfiar da vítima

A punição, se for comprovado o crime, deve, sim, ocorrer; mas os gestores e profissionais de RH precisam se perguntar qual é a sua responsabilidade diante do ocorrido. Tanto no sentido da sua responsabilidade individual quanto no sentido da responsabilidade da organização. 

Promover segurança psicológica

Um ambiente de desenvolvimento, inovação, bem-estar e cooperativismo é o melhor cenário para o crescimento da empresa. Mas não é o que acontece quando os funcionários estão apreensivos, receosos e frustrados. 

Existem inúmeras maneiras de promover segurança psicológica, uma delas é através da educação. Rodas de conversa, treinamentos, workshops e outros eventos podem ser momentos muito importantes. 

Uma dica para promover segurança é combater o assédio moral e sexual. Nesse sentido, pode ser interessante criar um conteúdo que eduque e, ao mesmo tempo, divulgue o canal de denúncia como este vídeo da Universidade Aberta da Catalunha. 

Ele começa dando vários exemplos de assédio no ambiente de trabalho e falando brevemente sobre suas consequências, além de mostrar que a instituição não tolera abuso e, ao final, comunicar quais são os canais de denúncia. 

Criar um canal de denúncia

Não só é fundamental para que a política contra assédio seja levada a sério, como é obrigatório pela lei 14.457/22 (Artigo 23)

Afinal de contas, mesmo que a empresa transforme a sua cultura e produza materiais e eventos educativos, se não houver medidas práticas para denunciar, apurar os fatos e punir os assediadores, estes vão continuar abusando dos colaboradores. 

Para que os funcionários sintam-se seguros em realizar a denúncia é preciso garantir o seu anonimato. 

Além disso, contratar uma empresa terceirizada para criar o canal e apurar os fatos é muito importante, pois garante que os funcionários não sofreram qualquer tipo de represália de gestores ou outros profissionais da empresa. 

Aplicar sanções administrativas

Tanto a lei 4742/2001 quanto o Artigo 146 do Código Penal criminalizam o assédio moral no ambiente de trabalho. Assim, uma vez que o assédio é confirmado, devem existir sanções administrativas já que é obrigação das empresas — também perante à lei — seguir a legislação brasileira.

A pena para assédio moral é de 1 a 2 anos de detenção, podendo ser aumentada se a vítima for menor de idade e, além disso, também é incluída a pena pelo tipo de violência realizada. 

É uma situação bastante desagradável, mas a melhor coisa a ser feita é assumir que o fato aconteceu e, de forma alguma, tentar obstruir ou “dar um jeitinho” para diminuir a importância do ocorrido.

Recuperar a imagem positiva da empresa no mercado

É importante que, caso seja necessário, a Assessoria de Imprensa trabalhe para gerenciar uma possível crise de imagem que pode ter consequências negativas na reputação da empresa. Isso, por sua vez, impacta a estratégia de employer branding e o posicionamento de mercado.

Veja, portanto, como é um assunto sério e que qualquer empresa precisa agir para prevenir, mais do que remediar depois que o assédio já aconteceu. 

Contratar uma empresa de terapia online

Você já sabe como o assédio moral no trabalho impacta gravemente a saúde mental dos colaboradores. Assim, além de tudo o que já foi dito, é preciso cuidar do bem-estar deles. Especialmente da(s) vítima(s), mas sem excluir os outros profissionais. 

Isso porque o assédio pode ter se dado de diferentes formas. Se o agressor humilhou ou teve qualquer conduta que influenciasse outros colaboradores, sem dúvida a saúde mental deles também pode estar abalada.

Contar com um especialista para acolher individualmente cada um vai aliviar o estresse, a insegurança, a ansiedade e outros sintomas que podem aparecer neste processo.

Aliás, é importante dizer que ter apoio psicológico não é importante só em momentos urgentes nem em casos extremos. É uma forma de autocuidado que pode ajudar a estabelecer a paz interior necessária para viver e trabalhar bem. 

Como a parceria com a Vittude pode ajudar sua empresa e os colaboradores? 

Depois de ler este texto, você já tem um conhecimento muito maior sobre a importância do cuidado com a saúde mental e com o clima organizacional da sua empresa. E queremos que saiba que nós estamos aqui para caminhar ao seu lado e facilitar o processo!

Nosso propósito é democratizar o acesso à saúde mental para todos os brasileiros. Entendemos que assegurar a saúde mental no ambiente de trabalho é fundamental tanto para colaboradores quanto para a empresa — que depende deles para colher bons resultados. 

Quando um caso de assédio acontece, não é só a vítima que é afetada, mas todo o universo corporativo. É preciso tomar inúmeras medidas e as prioridades devem ser cumprir o que diz a legislação e amparar os colaboradores. 

Nós possuímos um portfólio de serviços completo e que pode ser personalizado para atender situações como essa. Contamos com uma equipe com mais de 3.500 profissionais especialistas que passaram por um processo rigoroso de curadoria. Atualmente, apenas 3% dos candidatos fazem parte do nosso quadro de psicólogos parceiros. 

Auxiliamos empresas em três etapas: no diagnóstico,  realizando atividades educacionais e no apoio psicoterapêutico. 

Terapia individual

O apoio à saúde mental com sessões de psicoterapia não é um “acessório”. Sem saúde mental ninguém trabalha e nem realiza entregas de qualidade. Segundo a Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, em 2020 houve mais de 576 mil afastamentos por transtornos psicológicos e comportamentais.  

Tudo isso tem um impacto financeiro enorme nas empresas; mas, ainda mais significativo é o impacto sobre a saúde dos colaboradores. Entre eles, podem estar talentos que não são facilmente substituíveis. 

Escalas

As escalas são instrumentos essenciais para o diagnóstico de saúde mental na sua equipe. Elas já são mundialmente conhecidas, mas as escalas da Vittude são as primeiras do Brasil com foco na cultura brasileira.

A Escala de Percepção de Segurança Psicológica é especialmente valiosa quando a empresa está passando por um clima organizacional mais conturbado, o que definitivamente acontece em casos de assédio. 

Com o relatório gerado, você vai poder ter uma visão clara e data driven sobre a população corporativa. Esses dados são um insumo valioso para o desenvolvimento de programas de saúde mental.

Conscientização sobre o tema (treinamentos e rodas de conversa)

Além disso, realizamos rodas de conversa e treinamentos sobre muitos temas, inclusive sobre assédio moral e saúde mental. Essas interações podem acontecer presencialmente ou online (ao vivo ou com conteúdos gravados para a sua plataforma de LMS). 

Esses momentos podem ser especialmente valiosos. Tanto para os colaboradores, que têm a oportunidade de se informar e ainda debater, com seus pares, o assunto; quanto para o RH, que pode entender melhor como as pessoas estão se sentindo, quais as suas necessidades e como a empresa pode se adaptar. 
Saiba mais sobre esses e outros produtos que podem beneficiar sua empresa conversando com um de nossos especialistas!

Autor

Carol Motta

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Redatora sênior, especialista em SEO On Page, cientista social e com experiência em conteúdos de saúde e RH. Trabalha para viver num mundo em que as pessoas sejam mais saudáveis e as organizações, mais inclusivas.