Como o preconceito impacta a saúde mental LGBTQIA+?

De acordo com um levantamento do Grupo Gay Bahia, o número de pessoas LGBTQIA+ assassinadas no Brasil em 2022 coloca o país no topo mundial entre os que realizam esse tipo de pesquisa. Em um cenário em que 1 morte acontece a cada 34 horas, é mais do que urgente falar sobre a saúde mental LGBTQIA+.

Esse tipo de violência vem ganhando força com os discursos extremistas, que fomentam uma cultura de de discriminação e preconceito. 

Todo esse contexto impacta negativamente a vida e a saúde de pessoas que se identificam como LGBTQIA+ e, por isso, o acolhimento e a disseminação de informação de qualidade são necessários para amenizar os possíveis efeitos nocivos.

Para continuar se aprofundando no assunto e aprender sobre saúde mental LGBTQIA+, a primeira dica é continuar a leitura deste artigo. Vamos lá?

Como está a saúde mental de quem é da comunidade LGBTQIA+?

Imagine como deve ser viver diariamente com o medo de ser agredido (verbal ou fisicamente) ou excluído devido à sua orientação sexual ou identidade de gênero?

Seja no ambiente familiar, com amigos ou no trabalho, a comunidade LGBTQIA+ ainda sofre muitos preconceitos que impactam o bem-estar e a qualidade de vida. 

Os dados são realmente assustadores: estudos da revista científica americana, Pediatrics, revelam que 62,5% das pessoas que se identificam como LGBTQIA+ já pensaram em suicídio e têm seis vezes mais chance de tirar a própria vida se comparado aos heterossexuais.

Além disso, o risco de suicídio é 20% maior quando convivem em ambientes hostis à orientação sexual ou identidade de gênero.

Já um estudo do The Trevor Project, apontou que para um jovem deste grupo, contar com um adulto próximo que o acolhesse e aceitasse reduziria em 40% a chance de uma tentativa de tirar a própria vida.

Muitas vezes, a falta de aceitação começa dentro de casa, quando os próprios familiares do indivíduo não o acolhem. Sem o suporte adequado, é muito provável que se desenvolvam problemas de saúde mental que geram consequências graves para a vida pessoal e profissional.

A comunidade LGBTQIA+ e o estresse de minorias

As minorias são grupos de pessoas que, se comparados com outros grupos, apresentam diversos prejuízos devido ao estigma que lhes é associado. A saúde mental LGBTQIA+ sofre com isso: um estresse proveniente de não-aceitação, discriminação, violência e rejeição.

Lembrando que há uma diferença entre os fatores estressantes do cotidiano e os específicos. Aqueles do cotidiano não se relacionam com uma posição de vulnerabilidade social, ou seja, são eventos que impactam a vida do indivíduo, mas não estão atrelados à condição de minoria.

No caso da comunidade LGBTQIA+, alguns exemplos de estressores específicos são as dificuldades para lidar com a própria sexualidade, o desenvolvimento de expectativas de rejeição e a ocultação da sexualidade.

Quais são os principais desafios para eliminar o preconceito na sociedade?

Existem vários fatores que contribuem para o preconceito contra a comunidade LGBTQIA+. 

Para fazer parte da luta contra o preconceito e violência, primeiro é necessário entender o que precisa mudar e alguns pontos fundamentais são:

Preconceito velado

O preconceito nem sempre é direto. 

Sabe aquelas piadas de péssimo gosto na mesa de almoço da família? Os comentários inapropriados? Tudo isso é um preconceito velado e, normalmente, quem reproduz esse tipo de fala pode nem se considerar uma pessoa preconceituosa.

Discursos que perpetuam estigmas e colocam as pessoas da comunidade LGBTQIA+ em uma posição de inferioridade ou deboche não podem ser normalizados. É a partir de pequenas falas e atitudes do dia a dia que se promove a verdadeira mudança.

Desinformação sobre o assunto

Tudo o que não se encaixa nos padrões tidos como “normais” gera certo estranhamento.

Por muitos anos, falar sobre homossexualismo, identidade de gênero e orientação sexual foi um grande tabu. 

E, dessa forma, as pessoas passaram bastante tempo sem informações de qualidade sobre o assunto e continuaram cultivando estereótipos sobre a comunidade LGBTQIA+.

“Mas a pessoa nasce gay?”.

“É possível gostar de homem e mulher ao mesmo tempo?”.

Esses questionamentos ainda são bastante comuns. O problema é que, com as perguntas, muitas vezes chegam as respostas equivocadas também, que continuam perpetuando preconceitos e estigmas sobre esse grupo de pessoas. 

Por isso, quanto mais discussões e informações disponíveis sobre o assunto, melhor.

Padrões sociais

A sociedade tem padrões, certo? Existem algumas “verdades cristalizadas” sobre o que é certo e errado ou o que é feio e bonito, que foram construídas ao longo de muitos anos.

Por muito tempo, o único caminho possível era um homem se relacionar com uma mulher e ponto final. Todo o resto era errado e feio.

Por mais que muitos desses padrões já tenham sido questionados, questões que envolvem identidade de gênero e orientação sexual ainda geram bastante polêmica, questionamentos e dúvidas.

Ainda não chegamos em um lugar em que um não se preocupa com a escolha de parceiro do outro ou que duas mulheres se beijando na novela não causam polêmica. 

Muitas pessoas já entenderam que há muito além do “casal heterossexual”, mas outras ainda têm dificuldades para enxergar fora do padrão que foi estabelecido como “normal” pela sociedade.

É um processo que precisa ser trabalhado continuamente para que, um dia, não haja mais questionamentos sobre o que é certo e errado e todos sejam aceitos.

Quais são os impactos do preconceito na saúde mental?

Quando paramos para relembrar algumas conquistas importantes da comunidade LGBTQIA+, nos damos conta de que são muito recentes:

  • Em maio de 2011, o Supremo Tribunal Federal (STF) passou a reconhecer a união estável entre casais homossexuais como entidade familiar;
  • No final de 2019, o Brasil foi o 43º do mundo a criminalizar a homofobia.

São marcos com menos de 20 anos, percebe? Por isso, a luta ainda é muito longa e são inúmeras as consequências do preconceito na saúde mental das pessoas LGBTQIA+.

Aliás, a Mental Health Foundation, do Reino Unido, já revelou que estudos apontam que os homossexuais e transexuais estão mais suscetíveis a desenvolver doenças psiquiátricas do que os heterossexuais. Isso porque discriminação, desigualdade e desvantagens sociais pesam demais para esse grupo.

Além disso, a comunidade LGBTQIA+ está muito mais propensa a sofrer crimes de ódio do que heterossexuais, o que reduz a qualidade de vida e pode ser um fator que contribui para o desenvolvimento de transtornos mentais graves.

Alguns dos problemas de saúde mental que podem ser desenvolvidos são:

Depressão

Como viver bem e feliz se o tempo todo você é confrontado pela ideia de que é uma “pessoa errada”?

Infelizmente, é assim que muitas pessoas LGBTQIA+ se sentem.

A depressão é um transtorno mental caracterizado por tristeza profunda, desânimo, apatia, entre outros sintomas. Lembrando que a falta de acolhimento muitas vezes começa em casa, com a família, e o próprio indivíduo pode ter dificuldades para se entender e se aceitar.

Se no ambiente que, teoricamente, deveria ser um porto seguro, só gera mais insegurança e medo, quem dirá no restante do mundo, em que é preciso enfrentar tanto preconceito.

O estresse, medo e angústia com o qual convivem diariamente podem ser gatilhos que, se não forem tratados, acabam se tornando um fator desencadeante da depressão.

Ansiedade

Várias questões podem contribuir para o desenvolvimento de transtornos de ansiedade

No caso das pessoas LGBTQIA+, podemos citar o medo de não ser aceito e o estado de vigilância constante em espaços públicos pelo receio de sofrer algum tipo de agressão física ou verbal.

“Será que vou apanhar se andar de mão dada com a minha namorada?”.

“Será que vou perder a oportunidade de emprego se contar que sou gay?”

“Por que aquela pessoa está me encarando tanto?”.

Muitas vezes, é isso o que se passa constantemente pela mente do indivíduo.

Os prejuízos, portanto, são físicos e sociais e, na comunidade LGBTQIA+, esses transtornos acontecem com maior frequência se comparado com a população cis e heterossexual.

Transtorno de estresse pós-traumático

Em situações de violência e discriminação, também é possível que o indivíduo desenvolva transtorno de estresse pós-traumático, em que há a dificuldade de se recuperar após a vivência ou testemunho de um acontecimento assustador.

Essa condição pode durar meses ou anos, e a pessoa sofre com gatilhos que trazem de volta memórias do trauma e são acompanhadas por sintomas físicos e emocionais.

3 estratégias de cuidado com a saúde mental para a comunidade LGBTQIA+

O contexto não é fácil, mas a boa notícia é que existem recursos capazes de auxiliar a comunidade LGBTQIA+ a fim de amenizar os efeitos negativos do preconceito e da violência.

Algumas recomendações importantes são:

Frequentar grupos de apoio à comunidade LGBTQIA+

É fundamental contar com o apoio da própria comunidade LGBTQIA+, afinal, são pessoas que vivem, em circunstâncias e realidades diferentes, os mesmos desafios e dores.

Um espaço de escuta, acolhimento e representatividade é necessário para se sentir menos sozinho e fazer amizades que fortalecem a saúde mental e o bem-estar.

Fazer terapia

Infelizmente, além da população LGBTQIA+ sofrer com transtornos mentais, também há a dificuldade para buscar ajuda psicológica pelo medo de se abrir aos profissionais da saúde, afinal, é uma exposição que gera ansiedade.

O processo terapêutico é essencial para que quem faz parte da comunidade LGBTQIA+ possa viver com mais saúde e bem-estar, afinal, a rotina está repleta de adversidades provenientes do preconceito.

Entre os desafios diários, alguns lidam com o estresse crônico por fingir ser alguém que não se é, conflitos familiares e dificuldades em âmbito profissional. Tudo isso contribui para tornar a existência desconfortável e dolorosa, gerando vulnerabilidade física e mental.

O acompanhamento psicológico auxilia no autoconhecimento e no fortalecimento da autoestima, ajudando o indivíduo a entender gatilhos, padrões de comportamento, seus próprios limites e, é claro, como traçar estratégias de autocuidado e proteção à sua saúde mental.

Além disso, a terapia ajuda o indivíduo a entender que a sua sexualidade e gênero são questões naturais e não deveriam ser causa de sofrimento. O problema não ser quem se é na sua essência, mas precisar lidar com preconceitos e homofobia.

Onde encontrar um psicólogo?

A busca por um psicólogo nem sempre é fácil, mas, para ajudar, existem plataformas que tornam o processo bem mais simples.

Se você faz parte da comunidade LGBTQIA+ e precisa de apoio psicológico para lidar com baixa autoestima, medos e traumas ou para se conhecer e se aceitar como você é, conte com a Vittude.

Em nossa plataforma, você encontra profissionais capacitados de diversas abordagens da psicologia, que realizam atendimentos presenciais e online. Acesse o nosso site e comece agora mesmo a sua jornada de autocuidado.

Autor

Bruna Cosenza

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Escritora, produtora de conteúdo freelancer e LinkedIn Top Voice 2019. Autora de "Sentimentos em comum" e "Lola & Benjamin", escreve para inspirar as pessoas a tornarem seus sonhos reais para que tenham uma vida mais significativa.