Abordagem de Carl Rogers: conheça a terapia centrada na pessoa

A abordagem de Carl Rogers coloca a pessoa como o ponto central de sua própria história. O paciente tem liberdade para fazer as suas próprias reflexões e chegar a conclusões únicas. Ou seja, esta abordagem incentiva a autonomia no processo de busca pela verdade. 

Uma das frases célebres de Rogers descreve muito bem o conceito por trás da terapia centrada na pessoa. Ela diz “não podemos mudar, não nos podemos afastar do que somos enquanto não aceitarmos profundamente o que somos”. Em outras palavras, o paciente traça o seu próprio caminho em direção à autoaceitação, tendo o psicólogo como guia.

Quem foi Carl Rogers?

Carl Rogers (1902 – 1987) foi um psicólogo americano, idealizador da psicologia humanista. Estudou psicologia na Teachers College da Universidade de Columbia. Assim, entre os anos de 1928 e 1931, obteve os títulos de Mestre e de Doutor. 

Durante o seu trabalho com crianças em anos subsequentes, Rogers trocou o pensamento especulativo freudiano pelo behaviorismo. Foi a partir deste período que o psicólogo decidiu se concentrar no lado clínico da psicologia ao invés de se apoiar somente em teorias acadêmicas. 

Os seus estudos, então, passaram a ter como base novas formas de atendimento psicoterapêutico. Essas, por sua vez, eram muito diferentes das abordagens convencionais da psicologia acadêmica. Alguns de seus métodos dividiram opiniões, como é o caso do método não-diretivo. 

Este método consiste em permitir que o paciente “direcione” as consultas psicoterapêuticas conforme as suas próprias reflexões e conclusões. O profissional não o orienta a seguir um determinado caminho. É o próprio paciente que, através da livre expressão pessoal, tece a sua trajetória para as verdades que tanto procura. O psicólogo trabalha com o paciente a partir das descobertas feitas por ele.

Esse método recebeu muitas críticas quando foi desenvolvido, mas também chamou a atenção de profissionais interessados em sua teoria.

A trajetória profissional de Rogers foi marcada por momentos assim enquanto ele construía uma psicologia mais humanista e centrada no indivíduo. O seu trabalho científico incentivou, por exemplo, a humanização do tratamento de pacientes hospitalizados, como portadores de esquizofrenia

Atualmente, diversos profissionais da saúde mental trabalham com a linha desenvolvida pelo psicólogo durante grande parte da sua vida. 

Abordagem de Carl Rogers

Carl Rogers criou um modelo diferente de atendimento psicoterapêutico. O seu objetivo era estimular uma relação transparente entre profissional e paciente. Deste modo, a própria pessoa seria capaz de encontrar soluções para os seus incômodos emocionais.

Para isso, ele também estudou o “clima” apropriado para o atendimento. Rogers acreditava que o paciente se sentiria livre para se expressar em um ambiente caloroso. Ele compartilharia os seus sentimentos sem preocupações, não importando quão absurdos ou não-convencionais fossem, contanto que estivesse inserido em um clima permissivo. 

O psicólogo é capaz de produzir tais sentimentos no paciente ao construir uma relação de compreensão e de segurança com ele. Não importa o que é dito durante as sessões, o psicólogo o aceita como ele é. 

Assim, o paciente consegue abandonar as suas defesas pessoais e se colocar à disposição da autoexpressão sincera e da busca por autoconhecimento.

A abordagem de Carl Rogers segue, ainda, o conceito que de todas as pessoas buscam o crescimento e a atualização de si mesmas. Essa inclinação natural ao desenvolvimento pessoal tem como intenção compreender as vivências e o impacto delas na construção de sua personalidade, crenças e comportamentos

A partir desse processo de descobrimento, o paciente pode ressignificar experiências e fazer as modificações necessárias em sua vida para encontrar a felicidade. Essas muitas vezes englobam a elevação da autoestima e da autoconfiança, assim como o fortalecimento da inteligência emocional.

Tendência de atualização

Toda pessoa tem capacidade de encontrar maneiras de suprir as suas necessidades físicas e emocionais. A abordagem de Carl Rogers acredita que, em razão dessa característica comum a todos os seres humanos, as pessoas possuem uma tendência natural à atualização. 

De acordo com o psicólogo, quando uma pessoa vive experiências cujos significados são confusos ou incoerentes conforme a sua percepção, ocorre uma contradição. Essa dissonância pode indicar que a pessoa não está em contato com a sua verdadeira natureza.

Abordagem de Carl Rogers: conheça a terapia centrada na pessoa

Como ela ainda age conforme a tendência de atualização, começa a expressar uma série de comportamentos disfuncionais. 

Ela toma decisões equivocadas, segue o pensamento da maioria, vive com a intenção de agradar os outros, ignora a sua verdadeira essência e se anula. Conforme a terapia centrada na pessoa, é assim que surgem as frustrações, decepções e transtornos mentais.

Quando esta pessoa encontra os recursos necessários – sejam emocionais ou não – para fazer a sua autogestão, consegue reencontrar a harmonia interior. Ela redescobre os seus gostos, crenças, opiniões, comportamentos, valores, desejos, sonhos e traços de personalidade. 

Segundo Rogers, existem três condições básicas para que as pessoas consigam percorrer esse caminho de autodescobrimento. 

Três pilares da abordagem de Carl Rogers

As três condições básicas, ou os três pilares da abordagem desenvolvida por Carl Rogers, consistem em elementos essenciais para o sucesso da busca por autoconhecimento e redescobrimento. 

A ausência desses fatores resulta em um processo frustrante para o paciente já que muitas das suas dúvidas não são esclarecidas. 
Os três pilares da abordagem centrada na pessoa apontam para a solução natural dos problemas, encorajada pelo psicólogo. É importante ser autêntico e genuíno para que as incertezas sejam dissipadas e as experiências ruins, ressignificadas.

Empatia

A empatia é um fator indispensável para qualquer atendimento psicológico. Sem ela, nem o paciente nem o profissional conseguem se entender. Na abordagem de Carl Rogers, a empatia exerce uma função fundamental, que corrobora a criação da atmosfera calorosa idealizado pelo psicólogo.

O profissional deve tentar compreender as questões problemáticas trazidas pelo paciente a partir das percepções dele. Não se trata de se colocar no lugar do outro com exatidão. É, na verdade, procurar se aproximar da percepção do paciente para aprofundar a avaliação dos seus incômodos. 

Deste modo, o paciente se sente compreendido e relaxa a ponto de conseguir compartilhar assuntos e preocupações alojadas em seu íntimo. Ele mesmo traz as questões que deseja trabalhar durante a terapia. 

Congruência

A congruência está relacionada à autenticidade. Também pode ser descrita como a coerência entre as ações, os pensamentos, as emoções e as palavras. 

A pessoa que está em congruência com o seu ser é genuína e não tem razões para disfarçar sentimentos perante situações ou outros indivíduos. Ela pratica a autoaceitação e o amor-próprio diariamente, mesmo quando se depara com seus defeitos e falhas. Caso contrário, não conseguiria estar em contato com a sua verdadeira essência. 

A abordagem de Carl Rogers compreende a importância de se aceitar não somente para viver com autenticidade, como também para aceitar os outros. 

Assim, dois resultados do acompanhamento psicológico rogeriano são esperados: a aceitação de si mesmo e a dos outros. Ao aceitar-se como é, o paciente passa a compreender que, assim como ele comete erros e é ignorante em relação à diversos assuntos e vivências, as pessoas ao seu redor também.

Aceitação Incondicional Positiva

A aceitação incondicional positiva nada mais é que a aceitação incondicional da personalidade. O psicólogo deve aceitar os pacientes como eles são e recebê-los com afetividade independente de suas queixas emocionais. Não cabe a ele fazer julgamentos ou críticas a respeito de quem o paciente é. 

Do mesmo modo, os pacientes precisam ter a mesma postura consigo mesmos e os outros. A atitude de pressionar uma pessoa para agir de uma determinada maneira é errada, pois faz com que ela se afaste de sua verdadeira essência. 

Para quem esta abordagem é indicada?

Abordagem de Carl Rogers: conheça a terapia centrada na pessoa

Há muitas abordagens da psicologia e cada uma possui um objetivo próprio. Enquanto algumas pessoas respondem bem à Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), por exemplo, outras reagem melhor à terapia baseada na abordagem centrada na pessoa.

Isso não quer dizer que um tipo de terapia é menos eficiente que o outro, mas, sim, que as abordagens agradam personalidades diferentes. 

No caso da abordagem de Carl Rogers, ela é indicada para pessoas que buscam pela compreensão de sua personalidade, a autoaceitação, a resolução de comportamentos considerados conflituosos, a autoconfiança e, sobretudo, o autoconhecimento. 

O paciente é capaz de atingir todos esses objetivos por meio da autorreflexão. Ele normalmente passa a semana toda analisando as palavras ditas na consulta com o psicólogo, chegando a uma conclusão própria que lhe traz paz. 

Aos poucos, o paciente percebe que todas as questões problemáticas que carregava consigo foram esclarecidas e encerra o acompanhamento. Esta autopercepção de que ele está bem para seguir a vida, colocando-se como prioridade, é o principal objetivo do acompanhamento psicológico rogeriano. 

Em alguns casos, a intervenção multidisciplinar, com o auxílio do psiquiatra e outros profissionais da saúde, pode ser necessária.

Em síntese, para quem precisa receber orientações específicas para fazer mudanças comportamentais ou de pensamento, a abordagem focada na pessoa pode não ser a mais indicada. Já as pessoas que conseguem ter insights e possuem facilidade para refletir sobre a sua atual condição de vida tendem a gostar muito da abordagem de Carl Rogers. 

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Autor

Tatiana Pimenta

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CEO e Fundadora da Vittude. É apaixonada por psicologia e comportamento humano, sendo grande estudiosa de temas como Psicologia Positiva e os impactos da felicidade na saúde física e mental. Cursou The Science of Happiness pela University of California, Berkeley. É maratonista e praticante de Mindfulness. Encontrou na corrida de rua e na meditação fontes de disciplina, foco, felicidade e produtividade. Você também pode me seguir no Instagram @tatianaacpimenta