Lidando com crises de ansiedade em crianças: quais os cuidados e como tranquilizá-las?
14 de setembro de 2020
Tempo de leitura: 9 minutosA ansiedade em crianças precisa ser debatida mais amplamente. Segundo informações da revista Veja, cerca de 10% das crianças sofre com algum transtorno da ansiedade. Ela é a patologia psiquiátrica mais encontrada nos pequenos, sendo seguida pelo Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
Assim como a saúde mental dos adultos ficou abalada em virtude da pandemia de COVID-19, a das crianças também se alterou. O compromisso de ir à escola todos os dias e fazer atividades extracurriculares no contraturno acabou, deixando-as com imenso tempo livre. A energia dos pais, porém, não se compara à energia dos filhos pequenos.
O resultado dessa distinção é o acúmulo de energia nas crianças, a qual é exteriorizada através de atitudes e brincadeiras às vezes inadequadas. Outra consequência é o excesso de estímulos das telinhas (celular, computador e TV), proveniente da tentativa dos pais de silenciar e distrair os pequenos o mais rápido possível, por mais tempo.
Essas posturas podem aumentar a ansiedade das crianças, que não possuem a mesma capacidade cognitiva dos adultos para compreender e gerir emoções. Logo, a possibilidade de uma crise ou de consequências severas tende a ser maior.
Quando a ansiedade é normal nas crianças
Nesse período de quarentena, é normal as crianças apresentarem comportamentos um pouco diferentes dos usuais. É igualmente habitual que tenham um determinado grau de ansiedade, resultante de medos infantis.
Alguns se manifestam de acordo com a idade da criança, correspondendo aos seus conhecimentos sobre o mundo em que habita. Eles podem ser medo de tempestades, animais de estimação, escuro, insetos, fogo, se perder dos pais, monstros, desastres naturais, entre outros.
Crianças mais velhas, entre 7 a 12 anos, costumam ter mais medo de situações sociais, como o dia a dia na escola, interações com colegas e professores ou outros docentes. O medo excessivo pode indicar a existência de bullying ou de um transtorno ansioso.
A insegurança resultante de experiências ruins na escola ou ambientes frequentados pela criança pode se transformar em ansiedade e afetar outras áreas de sua vida.
Durante a pandemia da COVID-19, lidar com os medos é mais difícil. Eles podem se transformar em ansiedade, e surgir dos mais diversos locais, como notícias na TV ou de conversas de adultos mal interpretadas. Embora a criança não compreenda a magnitude da situação atual, entende que a vida está diferente e algo sério pode estar por trás disso.
A ansiedade em crianças se mostra preocupante quando elas apresentam comportamentos muito diferentes dos habituais, como isolamento (mesmo dentro de casa), birras constantes e crises de choros incontroláveis.
Cabe aos pais ficarem atentos às condutas demasiadamente atípicas ou que podem causar dano à saúde mental da criança.
Sintomas de ansiedade em crianças
A criança demora mais que um adulto para processar um acontecimento ou uma mudança. Ela passa por um período maior de interpretação e adaptação à nova situação. Por isso, a ansiedade pode se manifestar “do nada”, dias ou meses depois do ocorrido.
Os sintomas mais comuns de ansiedade em crianças são:
- mudança nos hábitos alimentares, podendo ser comer muito ou menos que o habitual;
- enxaquecas ou dores inexplicáveis;
- pesadelos recorrentes;
- distúrbios do sono;
- pedir para dormir com os pais com frequência;
- isolamento social;
- fobias;
- perda de vontade de fazer atividades e brincadeiras as quais gostava;
- destruição de brinquedos ou objetos pessoais;
- tristeza ou apreensão constante com temas além da sua compreensão;
- problemas digestivos.
Os pais não devem reagir com exasperação ou impaciência diante desses comportamentos. Se existir dúvida sobre quais são patológicos ou quais são ligados à manha infantil, o melhor a se fazer é procurar um psicólogo. Além de diagnosticar a ansiedade, a terapia previne que as crianças interpretem mensagens errôneas dos adultos e que traumas de infância se formem.
Mensagens equivocadas costumam ser transmitidas inconscientemente. Afinal, muitos pais (e adultos, no geral) não compreendem o impacto de palavras e ações no emocional e psicológico das crianças.
Como lidar com crises de ansiedade em crianças
Quando a criança entra em crise, os pais ou tutores têm o importante papel de estabilizá-la emocionalmente. Como se trata de uma situação complicada, porém, é comum os pais cometerem alguns erros independentemente de terem as melhores intenções.
Diferente de um adulto, uma criança não consegue entender o que está acontecendo com ela. Após vivenciar a crise de ansiedade repetidas vezes, pode desenvolver um pouco de consciência sobre os sintomas e as sensações, mas não consegue processar o possível transtorno em sua totalidade. Por isso, a ajuda dos pais ou tutores é essencial.
Os sinais de uma crise ansiosa para ficar atento são: hiperventilação, tremores nas mãos ou em outros membros do corpo, choro descontrolado, transpiração, tensão muscular e palpitações.
O que fazer diante de uma crise?
- validar as emoções e/ou sentimentos dos pequenos;
- mostrar que estão lá para ajudá-las;
- tentar distraí-las por meio de conversas casuais e questionamentos sobre como foi o dia, o que gostaria de comer no jantar e qual brincadeira gostaria de fazer com os pais;
- evitar contato físico imediato. Observe o comportamento da criança para verificar o momento mais apropriado para abraçá-la ou tocá-la;
- remover brinquedos ou objetos que possam machucar a criança do cômodo. Ela pode se movimentar sem querer e esbarrar/pisar neles e se machucar;
- fazer exercícios de respiração para a criança copiar, tentando fazê-la manter contato visual durante o processo; e
- permanecer com a criança durante a crise.
Após a identificação da primeira crise de ansiedade, é recomendado já marcar uma consulta com um psicólogo. Quanto mais cedo o diagnóstico for realizado, mais fácil e rápido será o tratamento.
Como lidar com a ansiedade infantil no dia a dia
A forma como a família lida com a ansiedade que se manifesta diariamente na criança pode amenizar os sintomas das crises, bem como reduzir a frequência com que ocorrem.
Os pais ou tutores são os principais exemplos na vida dos pequenos, e suas condutas são ainda mais importantes para eles, que os enxergam como heróis.
Embora não precisem manter essa postura de serem sobrenaturais e indestrutíveis, podem tentar dar exemplos positivos. Controlar o estresse de forma saudável, com exercícios físicos e uma alimentação balanceada, é um exemplo de conduta adequada que pode ser ensinada às crianças.
Além disso, os pais podem tomar algumas atitudes para ajudar a reduzir os sintomas de ansiedade no dia a dia. Como o tempo livre tende a ser maior na quarentena, vale a pena reservar momentos diários para interagir com os filhos e ajudá-los a extravasar as emoções e energia acumulada.
Em seguida, veja algumas maneiras de suavizar a ansiedade em crianças:
- Tomar cuidado com as palavras
Os pais devem cuidar do que falam a respeito da COVID-19 para não assustar ou preocupar os filhos. Essa cautela deve se estender para os demais assuntos do dia a dia. Respostas raivosas ou muito vagas podem alimentar a ansiedade da criança. Portanto, sempre opte pelo diálogo sincero, paciente e aberto com a criança.
- Oferecer apoio constante
Em momentos de dificuldade, demonstre o seu apoio e as formas como pode ajudar a criança a superar os seus desafios.
Não reaja com o famoso “não é mais do que sua obrigação” ou passando o sentimento de que “é só uma fase” porque esse tipo de afirmação pode dar origem a comportamentos ansiosos e perfeccionistas no futuro.
Oriente-a para que saiba que poderá sempre contar com você e entenda que você confia no que ela sente.
- Seguir a rotina diária o mais adequadamente possível
Procure manter uma rotina diária consistente para fornecer uma sensação de controle à criança. Lembre-se que os filhos observam o comportamento dos pais e os interpretam como corretos.
Mantenha hábitos saudáveis na quarentena para ensiná-los sobre a importância da resiliência.
- Não evitar por completo os medos da criança
As crianças podem apresentar medos muito imaginativos! Podem se originar de filmes ou desenhos animados, ou surgirem da própria imaginação.
Embora seja necessário reassegurar a criança que não é preciso se preocupar, não descarte os medos como “coisa da cabeça dela”. A conduta mais adequada nesse cenário é ensinar maneiras saudáveis de lidar com o superar o medo.
- Conversar sobre a situação que causa ansiedade
Se a criança apresenta preocupações excessivas, procure entender os sentimentos e as apreensões dela, mesmo se elas aparentarem ser irracionais.
Até mesmo em adultos é comum que a ansiedade seja alimentada por medos que não costumam fazer sentido para a maioria.
Pergunte à criança como ela se sente e demonstre empatia antes de aconselhá-la. Dizer “Eu sei que é complicado/difícil. Está tudo bem se sentir triste/bravo” é uma maneira de validar a sua experiência e suas emoções. Só então forneça um conselho para lidar com o objeto da ansiedade.
Novamente, ressalta-se a importância de procurar um psicólogo para fazer uma avaliação completa da condição da criança.
Os pais também podem se beneficiar com o acompanhamento psicológico e as orientações do profissional!
Se este artigo despertou o seu interesse, conheça a Vittude e encontre ajuda!