Bully: jogo ou realidade? Saiba como isso pode afetar sua saúde mental

Bully, lançado em 2006, é um jogo icônico da Rockstar Games, também conhecida pela série GTA (Grand Theft Auto). Aliás, Bully chegou a ficar conhecido como “GTA na escola”, por manter aspectos de jogabilidade semelhantes à série.

Não é impressão sua: o jogo faz referência à prática do bullying (agressões físicas e verbais repetitivas). E, principalmente, num contexto que o tornou alvo de polêmicas.

Em terras brasileiras, a venda do game chegou a ser proibida, em 2008, pelo Ministério Público do Rio Grande Sul. A proibição sob alegação de que Bully expunha “fundamentalmente, situações ditadas pela violência, provocação, corrupção, humilhação e professores inescrupulosos, nocivo à formação de crianças e adolescentes, à formação do ego e ao público em geral”. Em 2016, o jogo foi relançado, para PlayStation 4 e PC, e a proibição foi revogada.

Bully possibilita um excelente ensejo para a discussão do bullying, de forma mais abrangente. Portanto, neste post vamos relacionar ambos, buscando instigar o debate sobre um tema tão caro ao cenário atual.

Precisamos falar sobre Bully

Bully é uma expressão da língua inglesa que, na tradução para o português, seria equivalente a “valentão”, “brigão”. O game, com esse título, apresenta como protagonista o adolescente Jimmy Hopkins, que apresenta exatamente tal perfil.

O enredo, porém, situa o comportamento de Jimmy num contexto. A história começa com o garoto sendo conduzido, pela mãe e o padrasto, para um internato chamado Bullworth Academy — única escola que aceitou admitir o adolescente, dado seu histórico de aluno problemático.

Na verdade, essa introdução deixa claro que a mãe buscava um lugar onde deixar o garoto, “livrando-se” dele para poder partir para sua lua de mel (do 5º casamento).

Jimmy é um rapaz baixo, com espinhas e sardas, considerado feio. Foi alvo de bullying em escolas que frequentou anteriormente. O fato de ter se tornado agressivo e violento foi uma forma de defesa. Esse perfil não se perde no desenvolvimento do jogo: para sobreviver ao ambiente escolar hostil, ele ofende e briga com outros alunos. Mas também se mostra uma espécie de anti-herói, pois, em sua conduta, defende colegas perseguidos e humilhados pelos demais valentões.

Numa análise apressada, poderíamos enxergar o game como um equívoco. Isso porque ele transforma uma das formas de violência que mais cresce, no mundo, em um mote para diversão e entretenimento.

Impacto dos jogos eletrônicos

Essa abordagem tem seu mérito, como demonstram discussões sobre o impacto de outros jogos eletrônicos, com temáticas bélicas, sobre o comportamento de jogadores. Existe um incentivo? Ou uma catarse?

O sucesso em vendas de Bully pode indicar respostas de diferentes vertentes. Dentre as múltiplas interpretações que o jogo permite, preferimos não descartar nenhuma e, sim, investir na ideia de que a popularidade sinaliza a pertinência do tema, em si.

Ao transformar o bullying em objeto de consumo, por assim dizer, a Rockstar Games cria uma narrativa fantasiosa, porém, extremamente conectada com a realidade.

Se foi alvo de críticas, essa condição se deu, precisamente, porque se pautou por uma proposta coerente com preocupações contemporâneas. Ainda que fictícios, seus argumentos apontam importante verossimilhança e acabam ilustrando respostas a questões inquietantes, como as que analisaremos a seguir.

O que é bullying?

No final da década de 1970, o professor Dan Olweus, da Universidade da Noruega, cunhou o termo bullying para nomear um conjunto de práticas ameaçadoras e intimidadoras, que, segundo seus estudos, eram uma constante vivenciada por adolescentes com tendências suicidas.

Apesar de a palavra ser relativamente nova, sua prática é arcaica. O ambiente escolar é apenas um dos locais onde as agressões físicas e verbais pode ocorrer, mas ganha destaque por ser um espaço no qual crianças e jovens vivenciam boa parte de sua rotina, bem como viabilizam significativa parcela de suas relações sociais.

O jogo Bully leva ao extremo a concepção da escola como lugar privilegiado do bullying, mostrando um adolescente que é, ao mesmo tempo, vítima e algoz, sendo perseguido por colegas, professores, funcionários e diretor — além da própria mãe, que o desmerece —, usando a mesma moeda para se defender.

Tipos de bullying

Se somarmos os tipos de bullying sofridos e praticados pelo protagonista, Jimmy Hopkins, aos que ocorrem a outros alunos na fictícia Bullworth Academy, teremos uma expressiva amostragem de condutas tóxicas, tais como:

  • humilhações;
  • xingamentos e provocações;
  • danos materiais aos bens das vítimas;
  • ameaças e embates físicos;
  • assistir atos ofensivos, sem esboçar reações;
  • fotos e abusos de ordem sexual;
  • boatos depreciativos ou mentiras, que colocam a vítima numa posição vulnerável.

O comportamento impróprio de Jimmy, assim como de outros personagens do enredo, é exposto como resposta às pressões do convívio. Conforme a história progride, entendemos que, de um jeito “torto”, o que o protagonista pretende é o fim da imposição dos valentões. Ele não é um garoto mal, apenas adequou sua personalidade ao que o meio lhe impôs.

Talvez seja essa a principal problemática de Bully, no sentido das polêmicas que gerou. Ao fazer do bullying uma arma contra o próprio bullying, a mensagem transmitida induz a uma saída pouco saudável e, de forma alguma, recomendada para quem sofre com as agressões.

Porém, lembremos que Bully é um jogo, sem compromisso com ensinamentos éticos ou sugestões de estratégias que objetivem encarar e resolver a realidade. O perigo está, justamente, quando esses limites se perdem. Todavia, se chegarmos a esse ponto de confusão, seria mesmo o game uma causa ou apenas mais um sintoma da massiva presença do bullying?

O que leva o bully a praticá-lo?

Novamente, podemos verificar padrões do jogo Bully como exemplos. Os personagens retratam estereótipos clássicos, apontando os agressores como pessoas que estão cientes do mal que estão infligindo, sem que isso freie seus atos. Ao contrário, elas esperam a dor, a humilhação, o rebaixo, como consequências.

Por que agem assim? Porque, ao sobrepujar o outro, podem destacar seu “poder”, melhorar sua imagem frente aos demais colegas, impondo uma espécie de respeito, através do medo.

Autor e vítima de torturas psicológicas e/ou violência física precisam ser percebidos com atenção. Ambos podem estar enfrentando transtornos mentais, como depressão e baixa autoestima.

Quem sofre, muitas vezes se cala. Até porque o alvo preferido de bullying são crianças e adolescentes mais introvertidos, que podem ter dificuldades de travar diálogo com seus pares ou desabafar com pais e professores. Com a perseguição e sentimento de vergonha, essa dificuldade pode se tornar ainda maior, acarretando isolamento e sensação de impotência.

E quem assiste às “brincadeiras” brutais, sem tomar partido? A isenção, não raro, acontece porque o espectador tem medo de interferir e se tornar alvo também. Ao se tornar plateia, protege sua integridade e alcança um status de pertença, ainda que discorde do que vê.

O cyberbullying

Essa falsa neutralidade atinge um novo âmbito quando falamos de cyberbullying. Esse tipo de bullying se caracteriza pelo uso recursos tecnológicos — especialmente com auxílio da internet — como forma de propagar mensagens e imagens que objetivem caluniar, hostilizar, oprimir ou ridicularizar alguém.

Nesse caso, o comportamento passivo altera sua natureza pois, quando o adolescente recebe o conteúdo depreciativo, pode alastrá-lo, o que o torna coautor da ofensa. Infelizmente, poucos são os que agem corretamente, denunciando as mensagens deploráveis que recebem — geralmente, pelas redes sociais.

O cyberbullying, pela compatibilidade que representa diante das formas de comunicação e interação social dos jovens, além do alcance que atinge, é uma das formas de bullying mais preocupantes da atualidade, sendo, em grande parte, responsável pelo aumento desse tipo de violência.

Bullying: quais sinais devem ser observados?

Professores, pais e responsáveis precisam estar atentos a sinais de que uma criança ou adolescente pode estar enfrentando situações de bullying. As vítimas costumam apresentar indícios como:

  • Falta de entusiasmo com a escola: podem encontrar subterfúgios para evitá-la ou, de certas formas, sugerirem que gostariam de trocar de ambiente. Como se sentem acuadas, não revelarão os reais motivos — ou seja, as agressões.
  • Queda no desempenho escolar.
  • Comportamento abatido, inseguro, com manifestações de tristeza e baixa autoestima.
  • Perturbações no sono e no apetite.
  • Hematomas ou machucados: ao notar qualquer indício de ferimento, o adulto deve questionar o motivo. Deve atentar para o tipo de resposta que receber. Se a justificativa for muito evasiva, é preciso insistir, para verificar se há coerência. Deve-se observar, também, se o adolescente utiliza roupas em desacordo com o clima. Mangas longas podem ser um modo de esconder vestígios do bullying.
  • Roupas rasgadas ou objetos pessoais que “desaparecem”: uma das formas de bullying, como pontuamos acima, incide sobre pertences materiais. Eles podem ser roubados ou danificados pelos agressores.
  • Agressividade: medo, estresse e tensão acumulados podem resultar em momentos de raiva e descontrole emocional.
  • Isolamento: se a criança ou adolescente se sentir desamparado, ficará mais ensimesmado. A vergonha e a sensação de humilhação podem afastá-lo de amigos. Isso pode ocorrer tanto do ambiente escolar como de fora dele, pois não desejarão falar sobre o assunto, expondo sua vulnerabilidade.

Educação é fundamental

É crucial que, no processo de educação e convivência, os pais sempre priorizem um diálogo aberto e interessado no cotidiano dos filhos. Não há modo mais efetivo para saber, de antemão, se existem problemas que necessitam de auxílio para serem solucionados.

Quando a situação de bullying chega a se impor, seja no caso da vítima ou do próprio bully, os pais devem buscar orientação profissional de um psicólogo. Ambos precisam de orientação, para que os reflexos de condutas e traumas da adolescência não se perpetuem na vida adulta, trazendo ainda mais prejuízos para a saúde mental.

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Autor

Tatiana Pimenta

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CEO e Fundadora da Vittude. É apaixonada por psicologia e comportamento humano, sendo grande estudiosa de temas como Psicologia Positiva e os impactos da felicidade na saúde física e mental. Cursou The Science of Happiness pela University of California, Berkeley. É maratonista e praticante de Mindfulness. Encontrou na corrida de rua e na meditação fontes de disciplina, foco, felicidade e produtividade. Você também pode me seguir no Instagram @tatianaacpimenta