Fuja do preconceito que pode comprometer sua saúde

Na última quinta-feira, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou um relatório global sobre transtornos mentais. Um título chamou minha atenção: “O Brasil é o país com a maior taxa de pessoas com transtornos de ansiedade no mundo e o quinto em casos de depressão.” Como chegamos nesta condição? Alienação? Preconceito? É muito possível que você conheça alguém que tenha algum desses problemas.

De acordo com o relatório, 9,3% da população brasileira sofre de ansiedade. Ou seja, aproximadamente 19 milhões de brasileiros. Isso significa que 1 em cada 10 de nós experimentamos algum dos quadros de ansiedade. Esses quadros incluem, por exemplo, ansiedade, estresse pós-traumático, fobias (como medo de falar em público ou andar de avião), síndrome do pânico e os transtornos obsessivos-compulsivos.

Taxas de ansiedade e depressão crescentes

A OMS afirma ainda que os diagnósticos de ansiedade cresceram em 15% nos últimos 10 anos. Esse crescimento decorre em parte pelo envelhecimento da população, onde a prevalência desses quadros é maior em função do próprio envelhecimento, do surgimento de doenças e da perda do cônjuge ou parentes mais próximos. Porém, chama atenção o crescimento da incidência de quadros ansiosos em jovens e adultos em idade ativa.

Lembro aqui que esses números referem-se ao volume de casos diagnosticados. Assim, as pesquisas indicam uma maior incidência nas mulheres, de até 50% a mais em relação aos homens. Este número, porém, pode ser ainda maior.

Culturalmente os homens resistem mais a procurar atendimento médico e psicológico. Ou seja, possuem dificuldade em expressar os sintomas e falar sobre tristeza, depressão ou ansiedade. Este fator cultural pode estar associado ao menor número de diagnósticos entre os homens.

Um problema cultural

Como fundadora da Vittude, uma startup focada em psicologia, posso afirmar que, se todas as pessoas com diagnóstico de ansiedade ou depressão fizessem terapia, faltariam psicólogos formados em nosso país, mas o preconceito, o tabu, ainda é muito presente.

Segundo dados do Conselho Federal de Psicologia, existem aproximadamente 130 mil psicólogos que atuam exclusivamente na área clínica. A ociosidade média na agenda desses psicólogos é de 40%. O que indica, no mínimo, um contra senso quando olhamos um número tão grande de pessoas afetadas por transtornos de ansiedade e depressão.

Se dividirmos os 19 milhões de brasileiros com transtorno de ansiedade por 130 mil psicólogos-clínicos, cada um deveria ter hoje aproximadamente 146 pacientes em sua agenda. Número esse que obviamente está longe de ser a realidade dos consultórios.

E porque não buscamos ajuda para tratar as causas da ansiedade e resolver o problema? Sem medo de errar, afirmo que temos um grande problema cultural por aqui. Muitos brasileiros ainda relacionam o fato de buscar apoio de um psicólogo ou de um psiquiatra com a emissão de um “atestado de loucura”. Para alguns, depressão é apenas uma tristeza passageira. Ansiedade é vista como algo corriqueiro e comum, muitas vezes relatada em entrevistas de emprego como “oportunidade de melhoria”. Se já ouviu ou pensou algo parecido, PARE!! O que estamos tratando aqui é coisa séria, e que precisa de orientação especializada e profissional.

É preciso combater o preconceito e a desinformação

Esse preconceito é tão comum, que Jout Jout Prazer, youtuber e influenciadora digital, chegou a gravar o vídeo “Psiquê Humana” sobre isso. Ele pode ser visto abaixo.

Diariamente recebemos mensagens, e-mails e pedidos de ajuda de pessoas que estão enfrentando algum tipo de dor ou problema emocional. A maioria não sabe exatamente onde e como procurar apoio especializado. Pessoas que recorrem aos buscadores como Google e Bing para pesquisar as causas, sinais e mesmo tratamento para seus sintomas. Às vezes, o problema está dentro de casa.

Na última semana, recebi o contato de uma menina de 13 anos que afirmava ter todos os sinais de ansiedade e depressão. Ela já havia lido vários textos sobre o assunto e afirmou quase quebrar a mão ao dar murros na parede por não saber o que fazer com seus sentimentos. Ao questionar se ela já havia conversado com seus pais, ela afirmou que toda vez que pediu ajuda dos mesmos, eles lhe apresentaram a Bíblia, e não a levaram a um médico ou psicólogo.

Não estou aqui fazendo nenhuma apologia contra religião. Apenas pontuando que depressão é uma doença e que precisa ser tratada. Achar que simplesmente apresentar a Bíblia a um adolescente com aparente quadro depressivo irá resolver a situação é no mínimo ignorância.

É falta de conhecimento da gravidade que o estado depressivo pode atingir, se não cuidado adequadamente. Atitudes como essa colocam em risco a vida de pessoas em situação de sofrimento. O suicídio já é a segunda maior causa de mortes de jovens entre 15 e 29 anos, segundo a OMS.

Uso indiscriminado de medicação

Na Vittude, vivenciamos diariamente as dificuldades e o preconceito vivido por quem já entendeu que possui um problema e procura ajuda. No entanto, ainda existe muita gente que simplesmente procrastina a primeira ida ao consultório de um psicólogo. Particularmente conheço algumas pessoas que solicitam receitas de ansiolíticos e antidepressivos a médicos.

Remédios sem o devido acompanhamento médico ou psicológico apenas mascaram os sintomas da ansiedade. A causa efetiva e os gatilhos que levam ao quadro ansioso ou depressivo permanecem sem tratamento.

No final do ano passado, cheguei a ouvir o relato de um jovem executivo que tomava Ritalina para se manter concentrado e produzir mais no trabalho. Atitude assumida em função da pressão que enfrentava no trabalho e do medo de perder o emprego.

O músico sertanejo Luccas Lucco, em um relato anos atrás, confessou fazer uso de medicação para atividades rotineiras: “Uso remédios para conseguir voar, uso remédios pra dormir, pra acordar, pra me manter calmo, pra conseguir ficar dentro de um hotel..” Essa não é uma situação rara: ela está presente entre muitos que estão lendo este artigo.

São amigos, colegas, pares, gestores e familiares que deveriam se presentear cuidando da saúde, mas que por algum motivo não o fazem. Preconceito talvez? Falarei sobre o abuso indiscriminado de remédios em outro artigo.

Cuidar da mente é tão importante quanto cuidar do corpo

Quero me ater ao raciocínio desse texto e questionar você, leitor: por que ainda existe tamanha resistência em cuidar da saúde mental? É tão comum falarmos de cuidados com a alimentação e com o corpo. Investimentos em dietas, academia, personal trainer e até mesmo em botox e outros procedimentos estéticos.

Porque não cuidamos da mente com o mesmo empenho que cuidamos do corpo? A OMS define a saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afecções e enfermidades”. Então por que priorizamos o físico e esquecemos do mental?

Particularmente faço terapia desde 2012. Cuidar da saúde é o melhor investimento que posso fazer por mim. Além disso, as pessoas mais brilhantes que conheço já passaram ou passam por algum processo psicoterapêutico ou psicanalítico.

Por que fazer terapia?

Faço terapia porque amplia minha consciência. Quanto mais eu me conheço, mais consigo elaborar minhas decisões de forma assertiva. Assim consigo praticar a empatia e me colocar no lugar do outro com maior facilidade, ter relações mais saudáveis e fazer o que realmente gosto, sem culpa, sem preocupação. Todos nós temos problemas, precisamos tomar decisões diariamente, enfrentar nossos medos, nossas angústias e seguir caminhando.

Contar com o trabalho especializado de um psicólogo é importante na maioria dos momentos. Como se pode ver, não é um serviço para “loucos”: qualquer pessoa pode se beneficiar enormemente desse apoio, não importa qual seja a sua atividade diária, de estudantes a altos executivos.

Trabalhar o equilíbrio emocional e o apoio na tomada de decisão pode ser determinante no caminho para o sucesso. Portanto, deixemos o preconceito de lado e vamos trabalhar para reduzir aqueles números alarmantes da OMS.

Tatiana Pimenta é CEO e fundadora da VittudeAtua também como Coach nas áreas de empreendedorismo, gestão de negócios e vendas. É mentora de jovens e mulheres empreendedoras. Desenvolve trabalhos de consultoria empresarial nas áreas de gestão de vendas e cultura organizacional.

Plataformas como a Vittude podem facilitar a busca por um psicólogo que atenda a requisitos específicos para atender a todos que precisam de acompanhamento. Acesse nosso site e confira todas as oportunidades oferecidas para você!

Leia também:

Síndrome de Burnout: o esgotamento no trabalho pode deixar você doente

Empreendedorismo: dicas para equilibrar saúde mental e sucesso

Tatiana Pimenta

CEO e Fundadora da Vittude. É apaixonada por psicologia e comportamento humano, sendo grande estudiosa de temas como Psicologia Positiva e os impactos da felicidade na saúde física e mental. Cursou The Science of Happiness pela University of California, Berkeley. É maratonista e praticante de Mindfulness. Encontrou na corrida de rua e na meditação fontes de disciplina, foco, felicidade e produtividade. Você também pode me seguir no Instagram @tatianaacpimenta

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