Cleptomania: o que é e como lidar com esse impulso?

A cleptomania é uma condição pouco compreendida. Por vezes é representada como um comportamento cômico em filmes e novelas, ou interpretada como tendência criminosa por quem não a compreende. 

Na verdade, trata-se de um transtorno de controle de impulso com motivações emocionais e psicológicas que traz muito sofrimento para quem o possui.

A vergonha, o medo e o remorso acompanham os indivíduos cleptomaníacos praticamente por toda a vida, ou até que o autocontrole seja trabalhado mediante tratamento. O cleptomaníaco nunca está em paz consigo mesmo.

O que é cleptomania?

O DSM V descreve a cleptomania como a incapacidade de resistir ao impulso de furtar objetos desnecessários ou de alto valor monetário.  

Em outras palavras, o cleptomaníaco não furta para sanar uma necessidade básica, como a fome. Ele o faz simplesmente porque sente um apreço momentâneo por determinado objeto ou porque acredita que ele é valioso. Se notar que o proprietário atribui valor sentimental a ele, fica igualmente interessado em tê-lo para si. 

Os episódios de furto são acompanhados por conflitos emocionais complexos. O cleptomaníaco fica tenso ou ansioso antes de tomar o objeto alheio para si. Ele sabe que furtar é moralmente errado, mas não consegue controlar a sua impulsividade. 

A tensão somente desaparece quando pega e esconde o objeto em um local seguro, sendo substituída por uma sensação de alívio ou de prazer.

O cleptomaníaco não faz distinção entre as vítimas dos seus impulsos uma vez que o furto não é motivado por sentimentos negativos em relação a elas. Ele não precisa sentir raiva de alguém ou querer se vingar para cometer o ato. 

Outra característica desta condição é que os objetos furtados acabam sendo descartados com o tempo, apesar de seu suposto valor. São poucos os indivíduos que os guardam. Quando isso acontece, geralmente são colocados em um cômodo, podendo ou não ser organizados com cuidado. 

Sintomas de cleptomania

O desejo de furtar é o principal sintoma deste transtorno, seguido por um impulso incontrolável para satisfazê-lo. Conforme a gravidade do quadro clínico, ele pode ser classificado em três categorias: esporádico, episódico e crônico. 

Entre os sintomas de cleptomania requeridos para o diagnóstico desta condição estão:

  • Acúmulo de objetos com ou sem valor sentimental;
  • Ansiedade antes de cometer o ato;
  • Sentimento de culpa, vergonha ou tristeza por ter furtado;
  • Medo de ser descoberto e julgado;
  • Isolamento de pessoas queridas por não conseguir controlar os impulsos ou vergonha;
  • Consciência de que é errado furtar;
  • Motivações não relacionadas a delírios.

Causas da cleptomania

A causa da cleptomania ainda não é definida com certeza. 

Estima-se que alterações cerebrais podem ser as responsáveis por esta condição, particularmente baixos níveis de serotonina. Quando os níveis deste neurotransmissor estão baixos, a propensão a impulsos é maior.

O vício em dopamina também é especulado. O cleptomaníaco estimula a liberação deste neurotransmissor no cérebro quando furta, portanto, pode fazê-lo somente para reviver as sensações agradáveis da dopamina. 

Alguns especialistas a associam ao Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) por causar uma ansiedade semelhante ao cleptomaníaco antes de ceder ao impulso. Já outras evidências apontam para um possível vínculo com a depressão, transtornos de personalidade e transtorno paranoide. 

Possíveis riscos para os cleptomaníacos

Cleptomania: o que é e como lidar com esse impulso?

O principal risco para quem sente necessidade incontrolável de furtar é precisar responder por seus atos junto à polícia. 

Embora os furtos não sejam premeditados ou tenham intenção criminosa, o cleptomaníaco pode ser tratado como um até que o seu diagnóstico seja descoberto ou especificado. A experiência desagradável com as autoridades acentua a vergonha, o medo e a frustração de não conseguir controlar o impulso. 

O relacionamento com a família e os amigos é igualmente afetado. Como as pessoas próximas não compreendem o comportamento do cleptomaníaco, a tendência é isolá-lo ou entrar em conflito com ele. Na verdade, o que a pessoa com essa condição precisa é receber apoio para buscar ajuda profissional. 

Além disso, quem furta descontroladamente pode desenvolver depressão, ansiedade generalizada, síndrome do pânico, estresse pós-traumático e outras complicações psicológicas em razão deste transtorno. 

Tratamentos para este transtorno

Por terem vergonha de suas ações, indivíduos cleptomaníacos levam anos para procurar tratamento adequado. Não raro os furtos se iniciam na infância e, por receio de julgamentos e das consequências, o cleptomaníaco apenas busca ajuda em idade adulta. 

O temor de ser entregue à polícia pelo médico ou pelo psicólogo também pesa na decisão do cleptomaníaco. É mais comum ele buscar tratamento para sintomas da depressão ou da ansiedade. 

O tratamento integra a psicoterapia e a psiquiatria. Além de investigar os fatores emocionais que levam ao descontrole da impulsividade, o psicólogo analisa se existe conexão com outros transtornos mentais. Para isso, o profissional precisa conhecer o histórico de saúde e as vivências do paciente desde a primeira infância. 

A terapia pode ser conduzida individualmente ou com a presença de familiares. O segundo cenário é ideal porque a família pode compreender como ajudar o cleptomaníaco durante o seu processo de recuperação. Afinal, não é fácil conviver ou dar apoio a uma pessoa cleptomaníaca!

O uso de medicamentos psiquiátricos também pode ser recomendado pelo médico conforme o quadro clínico do paciente.

Como lidar com a cleptomania?

O tratamento para este transtorno é indispensável para acabar com os furtos. No dia a dia, o cleptomaníaco pode adotar alguns hábitos e técnicas para potencializá-lo. 

É muito comum recaídas acontecerem ao longo do acompanhamento psicológico. Não é possível mudar um padrão de comportamento ou tratar as questões emocionais associadas a ele de uma hora para outra. Para evitar a frustração, o cleptomaníaco precisa aprender a lidar com esses episódios.

 O apoio da família também é muito importante durante o tratamento. Os familiares devem se esforçar para aprender sobre esta condição, compreender os sintomas de cleptomania e não pressionar o ente querido. 

Outras formas de lidar com o desejo impulsivo de furtar são:

Não respeitar o tratamento

Seguir o tratamento psicológico e psiquiátrico é essencial para o sucesso deles. Por isso, não se pode ignorar as orientações dos profissionais. Se você se sentir incomodado ao longo do mesmo, vale conversar com os especialistas para fazer alterações e aliviar a sua angústia

Lembre-se que as recaídas não são indicativos de que o tratamento não está dando certo. São lapsos momentâneos de comportamento, totalmente esperados. Sempre comunique o psicólogo sobre esses episódios. 

Identificar gatilhos 

Pensamentos, emoções, situações e até pessoas podem ser gatilhos para o desejo de furtar objetos. Dedicar tempo para analisá-los pode evitar situações embaraçosas e o costumeiro sentimento de remorso após um furto.

Quando a ansiedade começar a incomodar, exigindo que um determinado objeto seja furtado, analise o que motivou esse sentimento. Preste atenção em seus pensamentos e na ocasião em que se encontra para identificar possíveis gatilhos escondidos neles. 

Canalize os impulsos 

Essa tática pode ser de difícil aplicação no começo. Tanto resistir quanto canalizar impulsos para atitudes mais saudáveis exige muito esforço psicológico e emocional. Para não acabar se sobrecarregando, comece devagar.

Quando o desejo de furtar aparecer, procure se distrair com outros pensamentos ou iniciar conversas sobre assuntos do seu gosto.  

Se necessário, deixe o recinto temporariamente, encontre um cômodo silencioso e respire fundo algumas vezes antes de retornar ao ambiente. Essa é uma tática apropriada para quando você estiver no ambiente de trabalho ou em um evento social de onde não é possível ir embora.

Outra forma de administrar os impulsos é praticar exercícios físicos, adotar um passatempo gratificante e adicionar momentos de relaxamento à rotina. Essas atividades são como alimentos para o bem-estar emocional. Elas previnem a influência de emoções e sentimentos ruins.  

Aprenda a controlar o estresse e a ansiedade

Cleptomania: o que é e como lidar com esse impulso?

O estresse é um agravante para uma série de transtornos mentais e doenças. Aprender a relaxar através de ferramentas próprias é, então, indispensável para cleptomaníacos. O alívio do estresse melhora a gestão dos sintomas uma vez que reduz barreiras emocionais que dificultam o autocontrole.

Como a ansiedade é um fator predominante, o cleptomaníaco também se beneficia de técnicas de relaxamento voltadas especificamente para ela. A crescente tensão é combatida mais facilmente quando se já está sereno. 

Nos instantes que antecedem o furto, o cleptomaníaco ainda pode recorrer a métodos de controle de ansiedade, como respiração profunda e visualização de um cenário seguro, para resistir ao impulso.

Fique focado em seu objetivo

A recuperação para a cleptomania, assim como para outros transtornos mentais e patologias físicas, não é rápida. Embora o desejo de se ver livre dessa condição seja intenso, ele não deve estimular a impaciência. 

A ânsia para chegar ao fim do tratamento e melhorar eleva as expectativas. Por conseguinte, você tem mais chances de se decepcionar e se frustrar durante o caminho. 

Transforme este desejo em um combustível para a motivação e mantenha o foco no objetivo principal do tratamento. Sempre que for necessário recobrar o ânimo, peça apoio de amigos e familiares. O carinho deles vai ajudar você a se sentir bem durante o acompanhamento psicológico e psiquiátrico.

Você também pode estabelecer pequenas metas diárias ou semanais com ajuda do psicólogo para registrar o seu progresso. Dessa forma, as suas vitórias sobre os impulsos de furtar terão um sabor mais agradável!

Se você achou este artigo interessante, compartilhe-o com quem você acredita que se beneficiará com a leitura e acompanhe mais informações no blog da Vittude!

Autor

Tatiana Pimenta

ver outros conteúdos

CEO e Fundadora da Vittude. É apaixonada por psicologia e comportamento humano, sendo grande estudiosa de temas como Psicologia Positiva e os impactos da felicidade na saúde física e mental. Cursou The Science of Happiness pela University of California, Berkeley. É maratonista e praticante de Mindfulness. Encontrou na corrida de rua e na meditação fontes de disciplina, foco, felicidade e produtividade. Você também pode me seguir no Instagram @tatianaacpimenta